quarta-feira, 17 de junho de 2020

Anushka


Assim que saí do ginásio, amaldiçoei a minha opção de não ter ido de carro até lá: era um facto que a viagem a pé de casa até lá era menos de um quilómetro, mas naquela tarde o treino que o meu personal trainer havia programado tinha incidido principalmente sobre as minhas pernas, pelo que me sentia um bocado massacrada. Tentando não pensar na dor que já ia sentindo nos músculos, estuguei o passo.
Já ia a meio caminho quando fui atingida por uma daquelas sensações esquisitas, um pressentimento, intuição, o que lhe quiserem chamar, de que algo ia acontecer. Com tudo o que as minhas irmãs já haviam aprontado, acabei por ir desenvolvendo uma espécie de sexto sentido – não que servisse de muito, pois inevitavelmente elas conseguiam sempre os seus intentos… Acelerei o passo ainda mais, olhando para todos os lados: não se via quase ninguém nas ruas apesar do dia bonito que estava. Ao longe vi uma carrinha bege, antiga, a vir na minha direcção; e o facto de ser uma carrinha do tipo furgão, sem janelas do meio para trás, fez disparar o meu alarme; ignorei o cansaço nas pernas e comecei a correr. Podia não ser nada, podia tratar-se de um veículo em que o ou os ocupantes nada tinham a ver comigo, mas preferi arriscar para evitar dissabores.