sábado, 26 de abril de 2014

Traída (parte 2)

continuação...

Com a sua superiora fora da divisão, a Enfermeira R aproximou-se de mim, ainda com o seu olhar impiedoso. Os seus lábios encarnados, apertados por trás da camada de látex que lhe cobria a cabeça, estavam retorcidos num esgar.
- Por favor, Enfermeira R… tenha piedade, por favor… eu… eu sou sensível, sou fraca… – gaguejei.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Traída (parte 1)

Olhei em volta. Segundo as instruções de Salima, aquele era o local que ela me havia falado, mas apenas parecia um edifício abandonado, de paredes grafitadas, vidros partidos, tão abandonado e decrépito como a zona onde eu estava… voltei a confirmar o endereço que ela me havia dado: estava correcto. Estava no sítio certo.
Encolhendo os ombros, encaminhei-me para a entrada principal do edifício. Aquilo estava tudo cheio de cacos no chão, cascalho e sei lá mais o quê… aquilo realmente parecia abandonado.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Demasiado tempo na Internet

(história anterior)

“ola bonita”
Sorri ao ler a mensagem de Sanjeev. Rapidamente os meus dedos teclaram um “olá, querido”. Então, a minha atenção regressou à minha quinta online.
Sim, eu estava viciada no Farmville. Era uma boa maneira de passar o tempo depois do trabalho, enquanto eu aguardava que Márcia chegasse do seu emprego. Achava divertido tomar conta daquela quinta virtual enquanto interagia com outra malta, de outros continentes, pessoas de quem eu nunca havia antes ouvido falar. Com o tempo, comecei a falar com alguns dos meus “vizinhos” a respeito de coisas corriqueiras, do dia-a-dia. Um deles chamou-me a atenção, principalmente porque a primeira coisa que me disse foi “és bonita” – sim, eu fraquejo sempre que me elogiam. O seu nome era Sanjeev Sidhu e era da India. Ele trabalhava como fotógrafo, e mais de uma vez ele dissera que gostava de se encontrar comigo e fazer uma sessão fotográfica comigo. Fiquei lisonjeada (quem não ficaria?) mas, mais de uma vez, eu lhe falei da minha relação com Márcia – e, claro está, mencionei a disposição azeda da minha marida em relação a mim e outras pessoas. Obviamente, ele nunca me levou a sério.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Apanhada sozinha

(história anterior)

Estava completamente sozinha em casa. Márcia havia ligado antes de jantar, avisando que ia fazer horas extra e não sabia a que horas iria chegar a casa. Assim, fui até à cozinha e aqueci qualquer coisa no micro-ondas. Lá fora estava a chover copiosamente, um tempo tenebroso. Sentei-me no sofá a ver o que passava na TV, mas a tentar não adormecer.
Então uma ideia atravessou-me a mente. Eu estava sozinha em casa, era ainda demasiado cedo para me ir deitar… porque não divertir-me um bocadinho a solo? Sabia que Márcia, se descobrisse, ficaria chateada… mas eu estava tão aborrecida, tão entediada – e talvez esperasse que ela, de facto, me descobrisse – que acabei por subir os degraus para o quarto.