segunda-feira, 20 de julho de 2020

Confinada



Fechei a porta, entrei no hall de entrada da nossa casa e pousei a mala do portátil e o saco com documentos do trabalho no chão. A empresa onde eu e Márcia trabalhávamos havia aderido às medidas de contenção do coronavírus, pelo que tínhamos sido aconselhadas a levar as ferramentas de trabalho para nossas casas, com vista a podermos fazer algum trabalho por lá. Suspirei de cansaço, despi o casaco do meu fato e pendurei-o no bengaleiro de entrada; depois, descalcei as sabrinas e troquei-as pelos meus chinelos cor-de-rosa. Depois dirigi-me para a porta de acesso ao interior da casa e quedei-me ao ver o papel colado nela e a mensagem escrita:

“DEVIDO À EPIDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS, A PARTIR DESTE PONTO TODOS OS VISITANTES TERÃO DE ENVERGAR UM FATO HAZMAT. OBRIGADO, FAMÍLIA SEMEDO”

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Anushka


Assim que saí do ginásio, amaldiçoei a minha opção de não ter ido de carro até lá: era um facto que a viagem a pé de casa até lá era menos de um quilómetro, mas naquela tarde o treino que o meu personal trainer havia programado tinha incidido principalmente sobre as minhas pernas, pelo que me sentia um bocado massacrada. Tentando não pensar na dor que já ia sentindo nos músculos, estuguei o passo.
Já ia a meio caminho quando fui atingida por uma daquelas sensações esquisitas, um pressentimento, intuição, o que lhe quiserem chamar, de que algo ia acontecer. Com tudo o que as minhas irmãs já haviam aprontado, acabei por ir desenvolvendo uma espécie de sexto sentido – não que servisse de muito, pois inevitavelmente elas conseguiam sempre os seus intentos… Acelerei o passo ainda mais, olhando para todos os lados: não se via quase ninguém nas ruas apesar do dia bonito que estava. Ao longe vi uma carrinha bege, antiga, a vir na minha direcção; e o facto de ser uma carrinha do tipo furgão, sem janelas do meio para trás, fez disparar o meu alarme; ignorei o cansaço nas pernas e comecei a correr. Podia não ser nada, podia tratar-se de um veículo em que o ou os ocupantes nada tinham a ver comigo, mas preferi arriscar para evitar dissabores.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Deboche nocturno


A partir do momento que Marco decidiu passar a ser a “Barbie” de Paula, a sua vida transfigurou-se por completo. Aliás, chamar-lhe “Marco” seria impreciso, uma vez que ele assumiu o seu alter-ego de Mónica quase em permanência. E, como tal, sob indicação de Paula, a crossdresser começou um tratamento hormonal destinado ao acentuar de aspectos femininos, como os peitos e a fisionomia, e começou a trabalhar mais o físico de forma a reduzir a massa muscular. Despediu-se também do seu trabalho como informático e, algo a contragosto, foi tirar um curso de esteticista, arranjando um trabalho numa cabeleireira não muito longe de casa e cuja dona era amiga de Paula.
Na intimidade com Paula, se Mónica já andava sempre vestida de forma atraente, nesta nova fase ela passou a andar sempre de lingerie provocante e o mais decotada e transparente possível; a esposa fazia-a andar todos os dias com um “tampão” – que mais não era do que um plug com um fio na ponta, que andava sempre enfiado no rego da crossdresser e que a Dominatrix adorava puxar sempre que passava por ela – e, sempre que faziam amor, era Paula que penetrava Mónica, uma vez que, para além de ser esta a dominante da relação, aquela continuava com o seu órgão sexual enfiado num cinto de castidade.