quarta-feira, 17 de junho de 2020

Anushka


Assim que saí do ginásio, amaldiçoei a minha opção de não ter ido de carro até lá: era um facto que a viagem a pé de casa até lá era menos de um quilómetro, mas naquela tarde o treino que o meu personal trainer havia programado tinha incidido principalmente sobre as minhas pernas, pelo que me sentia um bocado massacrada. Tentando não pensar na dor que já ia sentindo nos músculos, estuguei o passo.
Já ia a meio caminho quando fui atingida por uma daquelas sensações esquisitas, um pressentimento, intuição, o que lhe quiserem chamar, de que algo ia acontecer. Com tudo o que as minhas irmãs já haviam aprontado, acabei por ir desenvolvendo uma espécie de sexto sentido – não que servisse de muito, pois inevitavelmente elas conseguiam sempre os seus intentos… Acelerei o passo ainda mais, olhando para todos os lados: não se via quase ninguém nas ruas apesar do dia bonito que estava. Ao longe vi uma carrinha bege, antiga, a vir na minha direcção; e o facto de ser uma carrinha do tipo furgão, sem janelas do meio para trás, fez disparar o meu alarme; ignorei o cansaço nas pernas e comecei a correr. Podia não ser nada, podia tratar-se de um veículo em que o ou os ocupantes nada tinham a ver comigo, mas preferi arriscar para evitar dissabores.
Contudo, mesmo antes de chegar à rua da minha casa, passei por alguns veículos encostados ao passeio, entre os quais uma carrinha em tudo semelhante à que, a meu ver, me estava a perseguir; o meu cérebro demorou meio-segundo a mais a registar que a porta lateral estava aberta e, quando eu quis desviar-me dela, duas figuras saíram lá de dentro e agarraram-me. Nem tive tempo de começar a estrebuchar antes de ser atirada sem cerimónia lá para dentro e de ficar na escuridão assim que a porta foi fechada. A minha boca foi recheada com um pano e fechada com fita adesiva e um saco de pano preto foi-me colocado na cabeça; com uma fria e bruta eficiência, arrancaram-me todas as roupas do corpo, roupa interior incluída, e colocaram-me abraçadeiras à volta dos pulsos, cotovelos e tornozelos. Ouvi uma conversa, aparentemente em chinês, entre duas mulheres, depois o motor da carrinha soou e começámos a andar; e eu comecei a soluçar, pois o diálogo oriental só podia significar que eu havia sido capturada pelas capangas da Dra. Yelena Rostovseva, a cientista louca e transexual que possuía uma fixação doentia por mim…
A viagem ainda durou algum tempo: pareceu que grande parte do nosso percurso foi feito por auto-estrada, pois mantivemos uma velocidade constante e, aparentemente, rápida. A meio do percurso, fui agarrada e deitada sobre o colo de alguém (foi o que me pareceu) e, sem qualquer aviso, as minhas nádegas começaram a ser fustigadas por um objecto duro e pesado, quase como uma régua maciça de madeira; a cada pancada eu soltava um grito. Fui agredida dez vezes, depois a régua parou durante cerca de um minuto, recomeçando logo a seguir a sequência das dez pancadas. Cada conjunto era feito sobre uma parte diferente do meu posterior, de forma que todo ele ficasse dorido e massacrado com aquele tratamento. De vez em quando, uma mão enluvada passava pela minha ratinha ou pelo meu ânus, quase que para contrastar com a violência que me estavam a bater. Por cima do som da régua a bater na minha carne e dos meus gritos, ouvi as mesmas vozes falarem entre si naquele idioma do qual não percebia patavina.
A tortura que o meu traseiro estava a sofrer impediu-me de medir o tempo que demorou o resto da viagem; eventualmente parámos e ouvi o som de portas a abrir e a fechar, depois fui agarrada por baixo dos braços por duas pessoas e arrastada para fora da carrinha, rumo ao desconhecido. Não se ouvia barulho nenhum à nossa volta, apenas o chilrear de um ou outro passarinho cortava o silêncio daquele espaço. Fui levada, de pés a arrojar no chão por uma superfície que a primeiro me pareceu alcatrão, depois passou a pedras e finalmente ladrilhos. Descemos alguns lanços de escadas e continuámos por um espaço de chão gelado; subitamente, fui atirada ao chão sem cerimónia, com os meus seios a amortecerem parte do embate (que me causou dores neles, logicamente).
- Doutola, tel aqui sua convidada. – ouvi uma voz conhecida. Lin Pei…
Fui novamente agarrada por baixo dos braços e erguida; e tiraram-me o saco que me cobria a cabeça.
- Bem-vinda, querida Ana. – cumprimentou-me a figura que estava à minha frente. Yelena estava com o seu visual habitual, de bata branca sobre o seu corpo semi-coberto por látex preto, porém daquela vez não tinha o hood a cobrir-lhe a cabeça, deixando o seu cabelo escuro cair-lhe livremente sobre os ombros. Olhava para mim com um sorriso de genuíno prazer estampado no rosto. A meu lado, como não podia deixar de ser, Lin Pei e Mai Chiang eram as pessoas que me seguravam em posição. Ambas envergavam catsuits vermelhos de látex com desenhos a imitarem um vestido chinês.
A doutora aproximou-se de mim e acariciou-me o rosto com os seus dedos envoltos em látex escuro; involuntariamente fugi do seu toque.
- Ana, gostava que não estivesse sempre com medo de mim… Não lhe quero mal nenhum, muito pelo contrário. Se aqui a tenho é apenas porque a adoro e não lhe quero mal nenhum…
Yelena colocou-me os braços em cima dos ombros, abraçando-me, deu-me um beijo em ambas as faces e na fita adesiva que me cobria a boca. Não reagi – de qualquer forma, não tinha como evitar o que ela me quisesse fazer.
- Provavelmente não imagina porque a trouxe cá desta vez. Tenho uma pessoa para lhe apresentar. – declarou Yelena, assim que os seus lábios deixaram a minha cara. Ela mediu-me de alto a baixo, sempre sorrindo e lambendo os lábios, depois começou a andar lentamente à minha volta – Espero que as minhas meninas lhe tenham dado o meu presente…
Calou-se assim que ficou por trás de mim e senti as suas mãos tocarem-me nas nádegas, afastando-as e exibindo o meu ânus; não pude deixar de gemer com o seu toque na minha carne magoada.
- Lin, qual foi a parte de “dar-lhe uma prenda no rabo” que tu não percebeste?! Não era para lhe bateres, era para lhe dares o plug que te entreguei!
- Doutola, desculpa, não entendel na altula… – começou a assistente robótica da minha captora.
- “Não entenderes, não entenderes”… Tu sempre tiveste um problema com Ana! Ou achas que não sei do que tentaste fazer da primeira vez que cá a tivemos?!
- Eu não tel nada contla
- Da última vez que fiz o upgrade ao teu software, sempre pensei que essa tua faceta tivesse ficado resolvida de vez! – Yelena parecia furiosa – Deve ser como a questão da linguagem, não há meio de isso ficar corrigido… Depois disto estar arrumado, vamos tratar dessa situação de vez. Ana, – aqui a sua voz ficou voltou à doçura de antes – eu peço imensa desculpa por Lin Pei, não era este o tratamento que eu lhe queria dar. Bom, não vou perder mais tempo com esta questão, temos assuntos mais… prazenteiros… a tratar. Podem deixá-la no chão. Mai, vai buscar Anushka.
- Sim, Doutora.
Fui colocada de joelhos no chão com delicadeza e ali fiquei, enquanto vi a assistente mais gentil de Yelena desaparecer por uma porta. Estávamos no meio de uma divisão que parecia quase um armazém, com muitos caixotes e máquinas reluzentes. Para além de alguns zumbidos provenientes das máquinas, nada mais se ouvia.
Quando Mai Chiang regressou, arrastava uma rapariga com um saco de pano enfiado na cabeça e os pulsos atrás das costas. A recém-chegada estava totalmente nua e o saco cobria-lhe a cabeça por completo.
- Desde a última vez que cá a tive, querida Ana, eu estive envolvida num projecto pessoal e… bastante extenuante. – Yelena parecia radiante; dirigiu-se à rapariga e agarrou-a pelo braço – Lembra-se de eu ter ficado com uma amostra do seu ADN? Pois bem, esta menina que aqui está é o resultado de meses de trabalho e experiências, tudo com o objectivo de a conseguir replicar, Ana. Anushka, – aqui ela encarou a cativa – apresento-te a tua “mãe”! – e a sua mão agarrou no saco que lhe tapava a cabeça e retirou-o.
Fiquei chocada a olhar para a cara daquela rapariga: era uma cópia exacta da minha! Os mesmos olhos negros, as mesmas linhas do rosto, o mesmo nariz… não conseguia ver a boca pois ela havia sido amordaçada com um lenço. Mas até mesmo assim ela se assemelhava a mim… Reparei que o seu olhar também se esbugalhou ao ver-me.
- Chamei-lhe “Anushka” em sua honra, Ana, e à sua tradição familiar de terem nomes começados pela letra ‘A’. Por ela ser uma cópia tão fiel sua, à primeira vista, é que preciso de si aqui: para compreender se a minha Anushka é um sucesso a 100%. – Yelena encarou a clone e beijou-a por cima da mordaça; depois fez sinal a Lin Pei para se aproximar.
Tanto eu como Anushka fomos arrastadas para um local mais amplo com uma mesa ou bancada enorme no centro. Ela foi deitada sem cerimónia em cima da mesma, enquanto eu fui levada para um canto; debati-me e tentei-me soltar das minhas captoras mas sem sucesso. Ataram-me uma corda ao pescoço com um laço que parecia quase o das forcas enquanto a outra ponta foi presa a uma argola na parede.
- A Doutora quer que a Ana fique aqui a ver como se porta a sua gémea. – declarou Mai Chiang, sempre com aquele tom de voz aveludado – E ordenou-me que lhe fizesse companhia enquanto ela e a minha querida Lin Pei se… hmm… ocupam de Anushka.
Antes a companhia dela que da outra facínora, pensei. Mas o objectivo daquela “companhia” tornou-se evidente quando os seus lábios se aproximaram dos meus e os beijaram por cima da fita-cola que os cobria. Pelo canto do olho, pude ver que Anushka estava ajoelhada à frente da bancada e que Lin Pei a estava a manter na mesma posição, agarrando-lhe pelo pescoço enquanto Yelena despia a bata e masturbava o seu pénis raquítico; depois ela tirou-lhe o lenço da boca e, sem hesitar, enfiou-lhe o órgão por entre os lábios. Mai fez-me ajoelhar também, de frente para a bancada, e sentou-se no chão comigo entre as suas pernas. E sem nenhum aviso, as suas mãos começaram a massajar-me os seios.
Estava numa posição privilegiada para ver o que se passava na bancada. Yelena agarrou Anushka pelo cabelo, controlando o trabalho oral da clone, fazendo-a estimular aquela “ferramenta”. Quando se sentiu satisfeita, fê-la tirar a pila da boca; e Lin Pei, sempre a agarrar-lhe pelo pescoço, ergueu-a no ar com uma imensa facilidade e deitou-a na bancada de barriga para cima; e ao mesmo tempo que Yelena entrava na sua ratinha, a ciborgue ajoelhou-se em cima da bancada e encostou o seu baixo-ventre à cara de Anushka. Mai entreteve-se a brincar com os meus mamilos, com as minhas auréolas, desenhando círculos à sua volta com a ponta dos dedos, e a dar-me beijinhos na orelha e face, enfiando a sua língua no meu ouvido.
- A Doutora gosta muito de si, Ana, não imagina o quanto… e percebo muito bem porquê. – sussurrou Mai entre dois beijos.
Não vou mentir: aquela rapariga artificial estava a conseguir excitar-me. E ver o que se estava a passar à minha frente também ajudou a isso. Anushka estava a dar prazer oral a Lin Pei enquanto Yelena investia na ratinha da clone, gemendo a cada avanço, a cada penetração. Uma das mãos de Mai abandonou os meus seios e desceu pela minha barriga, sempre tocando-me ao de leve na pele, até os seus dedos começarem a brincar com os meus pelos púbicos. E foi então que os gemidos de Yelena se intensificaram e se tornaram mais frequentes: ela tinha atingido o orgasmo. Pouco depois, Lin também começou a gemer – pessoalmente, ainda me custava a crer que um cyborg conseguisse sentir prazer e ter orgasmos como uma pessoa normal! Um dedo da mão de Mai tocou-me ao de leve no clitóris, algo que se repetiu por imensas vezes; fechei os olhos à medida que me ia sentindo arrebatar…
De súbito, a fita que me fechava a boca foi arrancada de uma só vez; aquele acto apanhou-me completamente de surpresa e fez-me soltar um berro, que saiu abafado devido ao pano que ainda tinha na boca. Logo a seguir uma mão de dedos enluvados tirou-me também o pano que me silenciava; abri os olhos mas, antes de me aperceber quem era a figura envolta em roupas pretas que tinha à minha frente, uma pila semi-flácida e a saber a ratinha foi-me enfiada na boca.
- Agora é a altura de ver como a cópia se compara com a original. – declarou Yelena, que me agarrou no cabelo com ambas as mãos – Primeiro, deixe-me limpar a minha ferramenta dos sumos de Anushka…
A transexual obrigou-me a percorrer-lhe todo o comprimento do órgão sexual com a boca, chupando-o de uma ponta a outra; e após o ter tirado e inspeccionado, fui atirada para trás, ficando deitada de barriga para cima, com as nádegas magoadas em contacto com a bancada.
- Mai, tu tlatal de clone. Deixal puta connosco. – ouvi a voz de Lin Pei sobre mim, para no momento seguinte ela se sentar sobre a minha cara – Puta, tu! Lambel!
Como não podia deixar de ser, obedeci-lhe, deitando a língua de fora e começando a lamber aquele clitóris sintético e os lábios artificiais, tentando perceber se seria possível que aquele ser, aquela pessoa robótica podia efectivamente sentir alguma espécie de prazer com o que eu lhe estava a fazer… Yelena havia já penetrado a minha ratinha, pousando as suas mãos sobre as minhas coxas ao mesmo tempo que ia investindo furiosamente dentro de mim, dando-me autênticas marteladas que só não me chegavam ao colo do útero devido à reduzida dimensão da sua pila. Isso não era problema para a transexual, contudo: os seus gemidos voltaram a ouvir-se novamente à medida que ela entrava e saía de mim.
- Ana, minha querida Ana, minha querida e doce Ana… – a voz de Yelena era um misto de júbilo e súplica – Eu estou completamente louca por si, é uma autêntica deusa do sexo… – e é claro que, enquanto falava, a sua pila não parou de me penetrar a ratinha.
Apesar de ter Lin sentada sobre a minha cara, tentei olhar para a outra dupla enquanto a minha língua não parava de se mexer naqueles genitais e pude ver que Anushka estava ajoelhada à frente de Mai Chiang e com a cabeça enfiada entre as pernas da cyborg; porém fui distraída assim que um par de dedos me tocou no ânus e, sem perder tempo, me entraram no rabo. Instantes depois, Yelena começou a berrar de prazer, à medida que o seu orgasmo a preenchia de prazer – e me preenchia a ratinha do seu sémen. Eu senti-me aquecer à medida que os dedos enluvados daquela doutora iam-me penetrando o posterior, primeiro dois, depois três… e quando me senti atingir o clímax, era a mão toda de Yelena que me estimulava o rabinho.
Quando me acalmei, aquele punho abandonou-me o posterior, e eu comecei a relaxar, deixando cair a cabeça em cima da bancada, completamente esquecida de que tinha Lin Pei à espera de que lhe desse um orgasmo… e levei uma chapada na testa.
- Não dolmil! Lambel minha coisinha! – a sua mão agarrou-me no cabelo e fez-me encostar a cara à sua ratinha.
Sem outra alternativa, voltei à carga e a lamber-lhe os lábios vaginais e o clitóris, mesmo com pouca vontade. Pouco depois, Lin começou a gemer e a sua vulva passou a ter outro gosto, o gosto do orgasmo.

Assim que todas ficaram satisfeitas, fui levantada e forçada a ajoelhar-me à frente de Anushka, a quem Mai já havia voltado a colocar o lenço na boca. A minha cópia gémea estava com um olhar aterrorizado.
- E então, doutora, – Mai olhou para Yelena – qual o veredito? Vamos manter Anushka?
Lin Pei, que se havia afastado, voltou à nossa beira. Segurava nas mãos um fino cabo de aço, que habilmente enrolou à volta do pescoço da clone.
- Ou matal ela, como as outlas? Só dizel palavla, Doutola.
Yelena aproximou-se de nós, enquanto ia reajustando o seu traje. À minha frente, Anushka entrou num pranto, com as lágrimas a correrem-lhe de fio pela cara abaixo.
- Bom, Anushka é muito boa, mesmo muito boa… o melhor duplicado de Ana que já produzi. – e senti a sua mão pousar-me no ombro – Mas Ana… há qualquer coisa em Ana que a faz ser única. Teríamos de proporcionar a Anushka todas as experiências por que Ana passou ao longo da vida para que a minha criação se tornasse um duplicado idêntico. – os dedos de uma mão pentearam-me o cabelo – E não estamos a nadar em fundos para eu passar a vida a fazer mais clones e a desfazer-nos dos falhanços. Portanto… Anushka fica.
Lin Pei pareceu ficar descontente; ainda assim, apertou o cabo de aço que tinha a envolver o pescoço de Anushka, o que fez com que o seu olhar se esbugalhasse à medida que tentava respirar.
- Lin! – gritaram em uníssono Yelena e Mai.
Com a mesma violência com que apertou o garrote, Lin Pei desenrolou-o, deixando a clone a tentar recuperar o fôlego.
- Muito bem, ela vivel. – a sua voz parecia conter alguma raiva.
- Depois, Lin, vou tratar de ti. Agora, querida Ana… – Yelena agachou-se ao meu lado e deu-me um beijo na cara – antes de a devolver ao mundo, quero fazer um acordo consigo. Por muito que Anushka me ajude a suprir a sua falta, não consigo passar sem você. Por isso… se me quiser visitar quinzenalmente nos meus aposentos, eu contar-lhe-ei o que a Ana não sabe sobre as suas raízes.
- Não há nada que me possa dizer sobre os meus pais que eu não saiba. – rosnei.
Yelena riu-se, enquanto se levantou; no momento seguinte, alguém colocou uma tira de fita adesiva sobre a minha boca.
- Os seus pais… esse é um conto para outra altura. Mas não me referia a eles, referia-me às suas antecessoras, à sua linhagem, às mulheres que a antecederam. Refiro-me às descendentes da própria deusa Afrodite, cujo sangue ainda lhe corre nas veias, Ana. Podia falar-lhe da sua trisavó, fuzilada pelos nazis durante a II Guerra Mundial e que, antes de morrer, foi abusada pelos seus carrascos. Ou dos seus octavós, massacrados pelos turcos em Quios durante a Guerra da Independência da Grécia. Eu sei esses detalhes, esses e mais, muito mais… e se a Ana os quiser saber, só tem de ir aparecendo. O que me diz?
Fiquei a olhar para Yelena, com a cabeça a andar à roda. Nunca me preocupara muito em saber detalhes sobre a minha família, mas… será que aquela cientista transexual saberia de facto assim tanto sobre a minha árvore genealógica? Engoli em seco, fechei os olhos com força e acabei por assentir com a cabeça.
- Perfeito! – Yelena estava radiante – Mal posso esperar por si… daqui a duas semanas! Bom, Lin, podes levar Anushka aos seus aposentos e depois vem ter comigo. Mai, encarrega-te de devolver a minha querida Ana ao seu habitat natural.
A cyborg deu um gritinho de alegria e saiu do meu campo de visão, voltando instantes depois com uma seringa na mão. Assim que ma espetou no pescoço e empurrou o êmbolo, perdi os sentidos.

Acordei deitada na banheira do meu quarto, com a boca a saber horrivelmente. Não sabia que horas eram, mas calculei que estivesse perto do jantar: o meu marido de certeza que havia improvisado alguma coisa para comermos. Ainda meio tonta, levantei-me, abri a água do chuveiro e lavei-me, tentando libertar-me do cheiro de suor e fluidos com que aquela maldita doutora e as suas capangas me haviam impregnado. Automaticamente, a minha mão passou pelo meu rabo… e, tal como das outras vezes, retirei de lá o plug com que elas me haviam deixado. Olhei para aquele objecto, tentando compreender o porquê de estar metida naquela encrenca. Eu havia concordado em prostituir-me apenas para conhecer os detalhes sórdidos da história da minha família. E a ideia começou a causar-me uma sensação esquisita no estômago.
Acabei de gatas no chão da banheira, a vomitar e a chorar baba e ranho.

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