segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Infiltrada castigada

Na década de 1920, ainda antes do golpe de estado que degenerou no Estado Novo, havia um clube em Lisboa em que o acesso era exclusivo aos homens. Era um espaço em que os homens bebiam, fumavam sem pudor nem inibições causadas pela presença das caras-metade, e onde tudo o que se passava dentro das suas quatro paredes era secreto, não podendo ser comentado com ninguém fora do clube, nem com estranhos. Obviamente que tal clube gerou alguma celeuma, com algumas mulheres a manifestarem o seu desagrado devido a, principalmente, não terem entrada naquele espaço. E houve algumas que tentaram entrar à socapa, sendo depressa descobertas e expulsas.


Um dia, uma rapariga foi mais longe: disfarçou todos os seus traços femininos com maquilhagem, vestiu um fato masculino, colou um bigode na cara e procurou entrar no clube. Celeste, de seu nome, não teve dificuldade em entrar: o acesso não era exclusivo a membros, bastando ser-se homem para entrar; e após ter deixado a sua cartola no bengaleiro, a mulher disfarçada pôde circular à vontade, vendo a alta sociedade masculina a divertir-se em amena cavaqueira, uns lendo jornais, outros na zona do bar a bebericar as suas bebidas. Celeste achou aquilo estranho: tanto secretismo para aquilo? Apenas para estarem juntos na cavaqueira? Ela virou costas e preparava-se para ir embora quando foi interpelada por um homem alto e forte.
- Ora viva! – cumprimentou ele – Nunca o vi por cá… é novo no nosso clube?
Celeste assentiu com a cabeça, rezando para que ele não lhe fizesse nenhuma pergunta que não fosse de resposta “sim” ou “não”!
- O meu nome é Eduardo do Vale, fundador deste espaço. – e estendeu-lhe a mão – E o senhor, é…?
Ela apertara-lhe a mão, tentando descobrir uma maneira de sair daquele aperto. Tentando o tudo ou nada, fez a voz o mais grave possível e respondeu:
- César Correia. Cheguei agora à cidade. 
- Sim? Então bem-vindo! – e Eduardo oferecer-lhe um copo de champanhe, que Celeste, tentando não levantar suspeitas, agarrou, bebendo de um trago.
Infelizmente, no momento que o bordo do copo tocou no bigode colado, o mesmo acabou por saltar, caindo no chão. Eduardo deu pelo acontecimento e ficou, quedo, a encarar aquela pessoa que estava à sua frente.
- Mas o que vem a ser isto?! – perguntou ele em altos berros, atraindo a atenção de todos os que ali estavam.
Ao ver-se desmascarada, os instintos de Celeste fizeram-na desatar a correr, tentando chegar às portas da rua; todavia nunca lá conseguiu chegar, tendo sido agarrada por diversas mãos. A rapariga debateu-se com todas as forças, tentando libertar-se dos seus captores, mas acabou por ser arrastada novamente na direcção de Eduardo.
- Deixem-me! Tirem as patas de cima de mim! – rosnava Celeste, sempre a debater-se.
- Então o que temos aqui? Um gatinho curioso que não ouviu o provérbio? – Eduardo riu-se, aproximando-se de Celeste e olhando para as suas feições, só então se apercebendo que aquela pessoa era uma rapariga – Ou… uma gatinha?
- O que fazemos com ela, Sr. Eduardo? – perguntou um dos homens que seguravam Celeste.
- Deixem-me em paz!
- Oh, diria que ela precisa de um correctivo para aprender a ficar em casa a tratar da lida… – o sorriso de Eduardo transformou-se numa careta sinistra. – Tranquem a porta da rua!
Em pouco tempo, Celeste havia sido imobilizada, tendo os seus pulsos e tornozelos amarrados, os pés à mostra, as roupas transformadas em farrapos e os seus atributos físicos à mostra: ela era uma mulher de seios pequenos e traseiro pouco pronunciado, pelo que não fora preciso um grande esforço para passar por homem. Eduardo pegou no mamilo esquerdo da rapariga, puxou-o e torceu-o repetidamente, fazendo-a gemer.
- Pouca teta… temos de puxar por elas, a ver se elas ficam maiores! Já não precisas de as disfarçar!
- Vá para o Inferno! – gritou Celeste, mordendo os lábios.
Um dos intervenientes na captura de Celeste tirou um lenço de pano do bolso e enfiou-lho na boca, atando-lho por trás da cabeça.
- Oh, não era necessário isso, meu caro engenheiro… gostava de a ouvir insultar-me. – declarou o dono da casa.
- Assim ela não atrai atenções indesejadas, Dr. Eduardo.
Eduardo acabou por sorrir, para de seguida olhar em redor a ver quem eram os companheiros que ali estavam; ao ver que era tudo gente de confiança, começou à procura de coisas que pudesse utilizar para castigar aquela mulher impertinente que lhes aparecera ali caída dos céus. De súbito teve uma lembrança: atrás do balcão havia uma cana de bambu, sobrante de uma decoração antiga daquele espaço, e Eduardo foi logo buscar aquele artefacto, agitando-a no ar e fazendo-a silvar. Com aquele objecto fino, ele começou a vergastar o traseiro de Celeste, que apesar de se esforçar não conseguiu evitar de soltar gemidos sempre que aquela cana embatia nas suas nádegas e as enchia de marcas compridas. O dono do clube não se limitou em agredir o rabo de Celeste, fustigando também as costas, as omoplatas e as coxas, não parando até todas aquelas zonas ganharem uma tonalidade arroxeada.
- E, já agora… ponham-na de joelhos.
Alguns dos presentes no clube, que haviam assistido àquele espancamento sem intervir, agarraram no corpo de Celeste e fizeram-na ajoelhar-se no chão apesar dela se debater, mantendo-a naquela posição. Eduardo agarrou nos dedos dos pés da rapariga e puxou-os de forma que as plantas do pé ficassem expostas; e começou a bater nelas com a cana de bambu, com Celeste a agitar-se e a berrar sempre que os seus pés eram atingidos.
Quando Eduardo deu ordem para que voltassem a erguer Celeste, os seus pés estavam cheios de vergões arroxeados, enquanto a sua cara estava contorcida numa careta de dor, com os olhos a escorrerem lágrimas de fio.
- Bom, achas que já aprendeste a lição? – perguntou ele.
Celeste moveu ligeiramente a cabeça.
- Eu sinto que é necessário um pequenino reforço, ainda assim! – continuou ele, tirando o cinto de cabedal que tinha a segurar as calças; no momento seguinte, estava a bater com ele no traseiro desprotegido de Celeste, que já havia perdido toda a sua resistência e chorava copiosamente, soltando um urro sempre que o cabedal entrava em contacto com a sua pele ferida. O dono do estabelecimento depressa se cansou, todavia, e cedeu o lugar a um dos espectadores, que aceitou de bom grado a tarefa e continuou a vergastar com força aquele traseiro magoado.
Aquela sessão de espancamento durou quase uma hora pois os voluntários para fustigarem Celeste foram mais que muitos. A dada altura a cativa teve de ser presa pelos pulsos a um gancho que havia no tecto, pois já não tinha forças sequer para se aguentar em pé. Eduardo agarrava novamente na cana de bambu e pediu licença ao companheiro que, naquela altura, lhe batia.
- A espia está com o traseiro que parece um mimo! – aprovou ele, com um sorriso – Ainda há é um sítio que não foi contemplado!
Dito isto, o dono do espaço meteu a cana entre as pernas de Celeste e moveu-a para cima até ficar em contacto com o seu baixo-ventre. Foi um simples toque, mas foi o suficiente para a rapariga dar um pulo de sobressalto.
- Falta dar-se um correctivo aqui também para que ela nunca esqueça… Abram-lhe as pernas!
Celeste ainda tentou impedir os seus captores de serem bem-sucedidos, mas poucos instantes depois havia dois homens a segurar-lhe nos joelhos, forçando as duas pernas a ficarem abertas e a sua vulva exposta. Eduardo não foi de modas e começou a fustigar os lábios vaginais de Celeste, um à vez, com esta a gritar horrivelmente sempre que a cana batia contra a sua zona erógena.
- Dr. Eduardo, não acha que poderíamos aproveitar a presença desta intrusa e usá-la para algo mais lascivo? – interrogou um dos espectadores.
- Não! – foi a resposta sardónica – Este é um clube de cavalheiros. E deveremos comportar-nos sempre como cavalheiros. Talvez esta espia fosse bem aproveitada nisso, sim… mas não o vamos fazer.
Eduardo deu mais um par de pancadas nos lábios vaginais de Celeste e virou-lhe costas, fazendo sinal aos homens que lhe seguravam nas pernas para a largarem, deixando a rapariga pendurada pelos pulsos, a berrar convulsivamente de dor.
- E agora? – perguntou um dos intervenientes.
- Agora vão-se embora. Não há nada para ver aqui. Hoje encurtamos a nossa noite. – respondeu Eduardo, com voz ríspida.
- E ela?
- Deixem-na comigo. Não se preocupem! Levo-a ao hospital e convenço-a a não dizer nada do que se passou esta noite. E vocês, bico calado!
Um a um, todos os homens se foram embora, deixando a sala completamente vazia – com excepção do dono da casa e de Celeste, que continuava a chorar intensamente, agarrada às cordas que lhe mantinham os punhos erguidos mas incapaz de se conseguir levantar. Eduardo ficou imenso tempo a olhar para ela de mãos assentes nos quadris, tentando encontrar uma solução para Celeste.

Não se sabe o que aconteceu nessa noite. Nos dias seguintes, os membros do clube perguntaram a Eduardo o que havia acontecido àquela rapariga, com ele a comentar que a deixara no hospital, como havia dito. Todavia, Celeste nunca mais foi vista em lado nenhum.
Meses mais tarde, no parque de Monsanto, foi descoberto um corpo feminino em avançado estado de decomposição, pendurado pelos pulsos do ramo de uma árvore (de tal forma que até os braços haviam alongado), com o corpo incrivelmente cheio de vergões e a cara mutilada e disforme. Todavia, nunca foi possível identificar aquele cadáver, apesar de haver quem defendesse que aquela pessoa fora Celeste. E, desde essa altura, no mesmo local em que foi encontrado aquele corpo, há quem diga ter visto um vulto, aparentemente feminino, vestido com fato, de braços compridos e cara indistinta, e relate ter sido perseguido por esse mesmo vulto.

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