quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O despedimento (parte 1)


A porta da rua abriu-se, sinal de que Márcia havia chegado. Todavia, não consegui arranjar ânimo para me levantar, correr para ela e abraçá-la fortemente – algo de que eu estava desesperadamente necessitada, depois daquele dia de merda. Só de pensar nisso outra vez comecei a sentir mais lágrimas a aparecer… Fiz um esforço e compus-me, tentando disfarçar; no momento seguinte, Márcia aparecia-me à frente.
- Olá, querida!
- Olá, amor… – respondi, num murmúrio.
 O sorriso que lhe iluminava a cara desapareceu imediatamente, assim que ela reparou na minha cara tristonha e nas lágrimas que a inundavam. Logo a seguir, ela sentou-se a meu lado, com preocupação na cara.

 
- Andi, o que se passou? Porque estás assim?
- Oh, nada, acho que estou doente… – respondi, desviando o olhar.
- Doente? Com essa carinha de quem acabou de ver o animal de estimação ser enterrado? 
- Márcia, deixa… não é nada que possas resolver.
- Mas se eu não souber, não posso dar-te carinho…
Engoli em seco, ao mesmo tempo que uma lágrima me ia escorrendo pela cara abaixo.
- Fui despedida…
- O quê?! Porquê?! – Márcia estava de todas as cores.
Mas não lhe consegui responder, tendo sido dominada por uma crise violentíssima de choro. Márcia não disse nada: apenas me ajudou a erguer no sofá e abraçou-me com quanta força tinha, durante largo tempo.
Apesar de eu não ter qualquer vontade de comer, Márcia tratou do jantar (uma tarefa que costuma ser minha) e não me deixou passar sem comer uma sopa – aliás, ela até esteve quase a ir buscar umas algemas para me prender à cadeira e me meter o comer à boca, colher a colher. Todavia (e apesar de a ideia me agradar um pouco), o meu ânimo estava em baixo: acabei por engolir a sopa. Entretanto, e após muita insistência de Márcia, acabei por lhe confessar o que se passara:
- Na loja, têm andado a desaparecer artigos. E a patroa estava a desconfiar de mim e da Catarina, a minha colega que partilha o cacifo comigo. Esta manhã, abriram-no e encontraram lá algumas das peças que haviam desaparecido. E antes que eu pudesse defender-me, a outra cabra foi ter com a chefe e confessou que não tinha nada a ver com aquilo, que tinha sido eu, que até me tinha visto uma vez meter coisas ao bolso e que só se calara antes porque tinha tido pena de mim… e que até tinha provas contra mim mas que nunca  as apresentara porque até gostava de mim… a chefe depois já nem me quis ouvir, especialmente depois de terem encontrado impressões digitais minhas, ou pelo menos foi o que ela disse… – fui falando, entrecortadamente, sendo constantemente interrompida por soluços. Márcia não disse nada, mas vi-a a ficar com uma careta de fúria indescritível.
Após o jantar, e sem cabeça para ver TV ou para o que fosse, cedo me aprontei para me deitar. Mas Márcia estava numa de não me querer deixar sozinha. Pouco tempo depois de apagar o candeeiro da mesinha de cabeceira, quando já começara novamente no meu pranto, senti um corpo felino atirar-se para cima da cama, aterrando a meu lado, para, no instante seguinte, sentir umas mãos agarrarem-me nos pulsos.
- Márcia, por favor, deixa-me descansar… – gemi enquanto me debatia.
- Nem penses, princesa. – respondeu ela num tom de voz voluptuoso – Está cientificamente provado que a melhor cura para um dia de merda é uma queca bem dada… e hoje é daquelas noites em que gostava de te dar um andar novo.
Confesso que a perspectiva me agradava, mas… só me apetecia chorar, estar no meu cantinho sem que me chateassem e lamentar-me da minha pouca sorte. Todavia, naquele momento, já nada estava nas minhas mãos: Márcia já me havia amarrado os pulsos e tornozelos aos ferros da cama, desatando naquele instante os laços das alças que seguravam o top e as cuecas com que eu costumava dormir.
- Amor, eu acredito que não tenhas grande vontade de te divertires, mas… não penses que te vou deixar só, a deprimires aí sozinha. Vais-te divertir, quer queiras quer não queiras – e sabes que eu te adoro quando não queres as coisas e tenho de as forçar…
Era verdade, e também era verdade que eu adorava ser forçada a fazer coisas. Mas sentia-me deprimida… e a primeira forma que Márcia encontrou para me distrair foi começar a beijar-me os seios, passando a ponta da língua pelos meus mamilos, enrijando-os. Gemi, deixando cair a cabeça no colchão e fechando os olhos. E, de repente,  a vontade de chorar desapareceu…
- Márcia…
Ela fez que não me ouviu, continuando a passar a sua língua pelo meu mamilo direito, acariciando com a sua mão enluvada o meu mamilo esquerdo. Ela sabia o quanto eu adorava que me mexessem nos seios, eram dos meus pontos fracos.
- Márciaaaaaaa…
Mas o meu amor voltou a ignorar-me, enquanto os seus lábios não despegavam do meu seio e os seus dedos do meu outro peito. Eu quase conseguia sentir cada uma das suas papilas gustativas a serem esfregadas pela zona extremamente sensível e rija do meu mamilo. Poucos instantes depois, já me apetecia chorar mas de alegria, de prazer. Todavia Márcia apenas havia começado. A escuridão no nosso quarto era praticamente total: quando a mão dela agarrou no interruptor do candeeiro e o ligou, pude ver a sua vestimenta, de gargantilha de aspecto perverso ao pescoço, luvas por cima do cotovelo e suas cuecas de látex, munidas de um “extra”.
- Amor…
- Eu avisei-te. – sorriu Márcia – Hoje vais ganhar um andar novo…
Eu não conseguia resistir à veia dominadora da minha marida. Sempre que ela falava em ser bruta comigo, eu começava a sentir-me logo húmida, e daquela vez não foi excepção; Márcia continuava a lamber-me o seio e a acariciar-me o outro, mas começou também a roçar a pila de borracha das suas cuecas de látex no meu baixo-ventre, nos meus pêlos púbicos.
- Se te portares bem, amanhã faço-te uma surpresa. – sussurrou-me ela, entre duas lambidelas.
Eu adorava todas as surpresas de Márcia, e ela tinha o condão de mas fazer constantemente. Senti uma mão envolta em látex ser-me pousada no baixo-ventre, tocar-me nas nádegas e começar a tocar-me no meu ânus, para depois ter um dedo a massajar-mo – e a estimular-mo… Os meus gemidos aumentaram ainda mais.
- Convém preparar bem este cuzinho… a minha puta paneleira gosta de o ter bem cheio! Não é, paneleira? – ela adorava apelidar-me de “paneleira” por me ter tornado doida por sexo anal desde que a conhecera.
Respirei fundo, a custo, entre dois gemidos.
- Sim, minha Amada…
Quando tive dois dedos dentro de mim, a massajarem-me o esfíncter, senti que não conseguia controlar o orgasmo que ia acumulando dentro de mim; abri a boca para o mencionar, mas uma dentada de Márcia no meu mamilo transformou as palavras que iam sair num gemido de dor.
- Aguenta, puta paneleira! Ainda nem te fodi e já te queres vir?
Continuei a gemer, sempre com as mãos e o dildo de Márcia a tocarem-me, a excitarem-me; comecei a tremer, mordendo os lábios, ansiando pelo momento que ela iria avançar para dentro de mim. Mas ela apenas se limitava a lamber-me e afagar-me os mamilos, a roçar-me aquele falo pela zona púbica…
- A-amor… – balbuciei – P-por fa-favor… fode-me…
Mal o “me” me saiu da garganta, gritei: Márcia enterrara o seu brinquedo dentro de mim de uma só vez; logo de seguida, saiu e voltou a entrar com força. Para ajudar, eu própria me agitava na sua direcção, para fazê-la entrar mais fundo.
- Márciaaaaaaaaaaaaa…
Ela colocou-me a sua mão enluvada por cima da boca, silenciando-me. 
- Cala-te, paneleira…
Apesar do seu dildo estar a entrar na minha tremendamente encharcada ratinha, Márcia não deixou de me massajar o ânus, de meter os seus dedos dentro de mim; e foi-o fazendo da mesma forma como me estava a penetrar a minha vulva: umas vezes devagar, outras vezes depressa, umas vezes apenas passando com a ponta pela bordinha, outras vezes enterrando fundo. Sentia-me mesmo quase a atingir o clímax… mas a minha marida conhecia-me bem demais e ia-me controlando para que eu não me viesse antes do tempo.
Estivemos naquele jogo do “aguenta sem te vir” quase uns dez-quinze minutos (apesar de, para mim, ter parecido uma eternidade), durante os quais vi Márcia ter dois orgasmos – obviamente as cuecas dela tinham de ter algo para lhe dar prazer. Todavia, a minha rendição deu-se quando ela retirou o seu pénis artificial da ratinha, lentamente, mo encostou ao ânus e, ainda lentamente, o começou a enfiar no meu rabo.
- Por teres aguentado tanto tempo, aqui tens a tua recompensa, puta paneleira. – sussurrou-me ela ao ouvido.
Mas eu mal a ouvi, confesso: o clímax que sentia naquele momento fazia-me gritar desalmadamente, de tal forma que voltei a ter a sua mão livre a ser-me colocada na boca. As ondas de prazer que dominavam o meu corpo eram fortíssimas, faziam-me sentir como se estivesse numa outra dimensão. Não sei quanto tempo estivemos naquilo, mas percebi que Márcia fez os possíveis para prolongar o meu clímax até ao máximo.
Quando, finalmente ela me permitiu acalmar-me, deixei-me cair como morta, na cama, exausta – e totalmente abstraída dos meus problemas. Márcia saiu de dentro do meu rabinho, suavemente, e deitou-se a meu lado, comigo ainda presa à cama. Os seus braços enluvados rodearam-me e apertaram-me contra o seu corpo semi-nu, enquanto os seus lábios me iam dando beijinhos doces na omoplata, no pescoço, na face, na boca. Ali mesmo, senti-me feliz e protegida, imune a tudo o que fosse negativo…
- Não sei o que seria de mim sem ti. – sussurrei, olhando-a nos olhos.
E chorei baixinho, com a cabeça encostada ao seu ombro.

Na manhã seguinte, dormi até quase ao meio-dia. Sentia-me cansada e extenuada depois da noite anterior, e o facto de estar desempregada permitiu-me ficar na cama até à hora que me apeteceu. À hora que acordei Márcia não estava lá, claro: ela tinha o seu trabalho, as suas ocupações, e não as iria abandonar apenas porque eu precisava de consolo…
Desci as escadas e dirigi-me para a cozinha, com ideias de meter alguma coisa no meu estômago vazio. Quando lá cheguei, deparei-me com Márcia, que estava a arrumar coisas no frigorífico. Quando me viu, esboçou um sorriso.
- Ah, bom dia, dorminhoca! Estava a ver que não acordavas hoje…
- Amor? – sorri, indo ter com ela e beijando-a nos lábios – Mas… mas não ias trabalhar hoje?
- Ia. Mas meti o dia. Nem pensar em deixar a minha menina sozinha a deprimir em casa… para além do mais, temos coisas a fazer.
- Temos? O quê? – respondi, franzindo o cenho.
Em resposta, ela piscou-me o olho.
- Já saí, fui tratar da tua surpresa, depois fui às compras e, se não saísses da cama dentro de pouco tempo, ia-te lá buscar. Agora quero levar-te a almoçar fora; depois… é segredo.
- Mas…
- Mas, nada! Agora, vais lá acima, vais vestir-te e vens ter comigo, para te levar a almoçar comigo. Tenho coisas para discutir com a menina Andrea.
- Que coisas, amor?
Mas ela apenas se limitou a apontar para fora da cozinha. Aquiesci e regressei ao nosso quarto.

Márcia levou-me a almoçar a um restaurantezito na zona do Pragal onde serviam peixe grelhado. Antes de nos sentarmos à mesa, fomos a um expositor e escolhemos o peixe que queríamos comer – eu fui para uma posta de perca, enquanto ela preferiu peixe-espada. Sentámo-nos no exterior, numa das mesas da ponta, e fomos falando enquanto o almoço não chegava.
- Queres vir trabalhar para mim? – perguntou-me ela.
- Como? – fiquei a mirá-la com cara de parva.
- Sabes, parecendo que não, ando cheia de trabalho lá no escritório, e dava-me jeito uma secretária para me ajudar com as coisas triviais e burocráticas. O ordenado não pode ser grande coisa, estás todo o dia fechada dentro de quatro paredes (e sei que odeias isso) e as tuas funções podem não ser assim nada do outro mundo… mas assim não ficavas quieta e recebias algum dinheiro – para além de gostar de ter-te lá, podíamos fazer outras coisas.
Pelo olhar que ela me lançou, percebi qual o teor das “coisas” a que ela aludia. Senti-me corar.
- Mas… mas e os teus chefes deixam?
- Já lhes falei em arranjar uma ajudante que trate de meia-dúzia de merdas que eles me estão a atirar para cima, e eles até têm estado com vontade de aceitar. Assim, apresento-lhes o teu currículo, digo-lhes que te quero lá, que és trabalhadora e tens o perfil assim e assim que eu preciso, e pronto. Não te preocupes, não vais estar sem trabalho muito tempo.
Senti quase como se tivesse sido injectada com adrenalina. A minha vontade foi de saltar por cima da mesa, abraçar Márcia e cobri-la de beijos – mas estávamos rodeados de gente. Assim, apertei-lhe a mão com força e beijei-a.
- Obrigado pela surpresa, amor.
Vi-a rir-se.
- De nada, paixão. Mas esta não é a surpresa que tenho para ti…
- Não é?
Nessa altura, apareceu uma das empregadas do restaurante com a travessa do peixe-espada para Márcia, acompanhado de batatas cozidas. Márcia remeteu-se ao silêncio e não mais falou do assunto até final do almoço.

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