segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A caçada

Encostei-me a uma parede para ganhar fôlego e olhei em redor. Aquela zona tinha bastantes esconderijos, mas nenhum me pareceu ideal para tentar arriscar e ficar quieto à espera que o tempo passasse. Assim, quando me senti ligeiramente mais descansado, voltei à fuga.

 
Quando Maîtresse Amélia me desafiou para um jogo, estava muito longe de conseguir adivinhar o que Ela tinha em mente: uma caçada na Sua propriedade. As regras do jogo eram simples: eu estava nu, apenas com um capacete integral na cabeça e botas para poder fugir mais à vontade, mas ia ter as mãos fechadas com fita-cola e um plug enorme metido no rabo, daqueles que trancam e não saem sem ser com chave, ao qual estava preso um chocalho; Ela dava-me um avançozito e depois ir-me-ia perseguir até me encontrar ou até passarem quatro horas. Se acontecesse a segunda, eu receberia uma recompensa, mas se eu fosse encontrado... Maîtresse Amélia não disse o que me aconteceria caso isso acontecesse, mas o Seu sorriso diabólico indicou-me que as coisas não seriam boas para mim. E Ela mostrou-me duas armas com as quais me balearia no caso de Ela ganhar. Eram pistolas de airsoft ou paintball, mas pareciam bastante autênticas. Era mais um estímulo para não me deixar ser apanhado...
Subitamente, ouvi algo assobiar-me perto da cabeça.

Baixei a pistola, desapontada pelo Meu falhanço: por norma a Minha pontaria não era das piores mas aquele tiro tinha sido uma vergonha. Como resultado, o Meu escravo recomeçou a sua corrida.
Estávamos a fazer aquele jogo no complexo que Eu havia comprado nos arredores de Paris; aquilo fora uma fábrica de carnes antes de a crise a ter obrigado a fechar portas. Comprei aquele espaço com ideias de construir uma “fazenda” dedicada ao BDSM, onde as Dommes pudessem trazer os Seus submissos e usá-los como quisessem. Só que, enquanto isso não passava para a realidade, Eu entretinha-Me a usar aquela área para Meu próprio deleite. E a ideia da caçada já estava na Minha cabeça havia algum tempo, apenas não havia sido feita por andar ocupada com questões pessoais e familiares (uma delas foi o casamento da Minha irmã Andreia). Naquela tarde, todavia, tinha algum tempo livre; o estado do tempo também estava convidativo a actividades no exterior, por isso peguei no meu escravo nº 16, preparei-o para a caçada e deixei-o fugir, dando-lhe um avanço de dez minutos antes de começar a perseguição.
Sempre gostei do visual da Trinity, da trilogia de filmes “Matrix”, por isso quis que o Meu traje de caça fosse algo parecido. Assim, envergava uma gabardina sobre o Meu catsuit e calçava uns botins de tacão alto, tudo de vinil, tudo preto. E, obviamente, tinha colocado uns óculos de sol, não porque estivesse uma luminosidade que necessitasse de tal apetrecho mas mais para o estilo; e em cada mão segurava uma pistola de paintball, ambas réplicas de armas verdadeiras.
Assim que vi o Meu escravo recomeçar a correr, imitei-o, numa corrida mais lenta; não Me apetecia ficar muito cansada e correr de saltos altos não é das coisas mais confortáveis. Para além disso, Eu tinha um trunfo na manga: todos os Meus escravos possuem nas suas coleiras um chip que Me permite saber onde se encontram a toda a hora do dia, e aquela presa não era excepção. Por isso a Minha pressa não era muita… Depois de uns passos mais apressados, abrandei e comecei a andar calmamente, retirando do bolso da gabardina um tablet e abrindo a aplicação de geo-referenciação de animais: vi que ele estava a uns quinhentos metros à Minha frente, dentro de um edifício. Sorri e guardei o tablet no mesmo bolso, voltei a agarrar na pistola e estuguei o passo.
Cheguei à beira do edifício e comecei a subir uma escadaria metálica que estava no exterior: quis ganhar altura para o tentar encontrar, uma vez que a aplicação apenas funcionava em 2D – o escravo que havia desenvolvido a aplicação tinha ficado de arranjar uma forma de conseguir obter a altitude dos utilizadores das Minhas coleiras… Sabia que, se a distância fosse muita, qualquer tiro que Eu desse iria falhar; por isso a Minha ideia era apenas encontrá-lo. Depois, aproximava-Me dele e enchia-lhe o corpinho de manchas coloridas, de preferência à queima-roupa.
Assim que cheguei ao topo das escadas, abri uma porta de ferro e continuei a caminhar por um passadiço metálico que percorria aquele espaço de ponta a ponta e do qual tinha uma ampla visão para o interior daquele edifício. Havia ainda muita maquinaria abandonada, caixas, tralhas remanescentes da empresa que havia ocupado aquele espaço. Fui avançando pé ante pé, tentando que as Minhas botas não fizessem muito barulho, e cheguei ao outro lado do edifício com um sorriso nos lábios: vi o corpo do escravo escondido atrás de umas caixas de madeira, lá em baixo. Abri a porta que Me levou novamente ao exterior e desci até ao nível do chão, procurando uma porta ali ao pé e entrando pela primeira que Me apareceu.

Quando ouvi a porta a abrir, engoli em seco. Sabia que o meu esconderijo dependia essencialmente de Maîtresse Amélia não descobrir em que edifício eu me havia refugiado, e se Ela estava ali depois de ter percorrido aquele passadiço no topo do pavilhão, significava que Ela me devia ter avistado, ou apanhado algum indício… Só que, se eu me mexesse, e em virtude ao chocalho que eu tinha preso ao cu, Ela iria definitivamente perceber que eu estava ali. Decidi então refundir-me ainda mais contra o caixote onde estava encostado. Todavia comecei a ouvir o som dos Seus saltos a aproximar-se de mim; e apesar do frio que sentia por estar em contacto com o solo gélido de cimento, comecei a sentir um suor frio a percorrer-me a fronte…
- Não tens por onde fugir, escravo. Vou encontrar-te e vou “matar-te”. – ouvi-A, em voz alta, quase como se não soubesse ainda em que ponto exacto das instalações eu estava.
Levantei o olhar em busca da porta mais próxima que me pudesse levar ao exterior. Estupidamente quando me escondera não pensara nesse pormenor, o de ter uma hipótese de fuga ao pé – todavia os deuses da sorte haviam-me bafejado, pois havia ali uma relativamente perto de mim. O grande problema seria a distância a que Maîtresse Amélia Se encontrava de mim: se Ela estivesse já algo próxima e disparasse na minha direcção, duvido que voltasse a falhar. Só que a imobilidade naquelas condições estava destinada ao fracasso: Ela sabia que eu estava ali e não iria descansar até me encontrar. Tinha de arriscar.
Coloquei o meu coto direito no rabo, tentando impedir o chocalho de fazer barulho, levantei-me de um ápice e desatei a correr na direcção da porta. Cheguei lá e comecei febrilmente a debater-me com o puxador da porta que, felizmente, não era esférico, mas era fácil de operar apenas com cotos. Só tarde demais me apercebi de um facto: apesar de eu ter aparecido no campo de visão de Maîtresse Amélia, nenhum tiro se ouvira, nenhuma bala havia sido disparada.
Consegui rodar o puxador da porta e o coração caiu-me imediatamente aos pés: a porta estava trancada. Virei-me para trás, à procura de uma solução imediata, e vi Maîtresse Amélia, a uns dois metros de mim, com ambas as pistolas apontadas na minha direcção e um sorriso sádico no Seu rosto…
Não tive tempo de reagir antes de a primeira bola de tinta me embater no peito.

Quando comecei a disparar, não parei de carregar nos gatilhos até os carregadores das Minhas pistolas ficarem vazios. Ouvi o escravo a gritar sempre que uma bolinha de tinta lhe embatia no corpo e o sujava de diversas cores. Apontei indiscriminadamente para peito, braços, pernas e partes baixas (apesar da “protecção” do CB-6000), deliciando-Me com os seus gritos de dor.
Assim que as Minhas armas se calaram, meti-as nos bolsos da gabardina e retirei de lá a Minha máquina fotográfica e o Meu telemóvel. Com um sorriso, tirei umas fotos ao escravo, retratando a Minha presa, imortalizando para sempre o estado em que Eu o deixara; depois disso fui ao telemóvel, procurei na lista de contactos o número do edifício principal e liguei.
- Sim, Maîtresse?
- A caçada acabou. Envia um carrinho para o edifício três e entrega ao escravo que for a guiar o Meu saco portátil de apetrechos.
- Assim se fará, Maîtresse.
Desliguei, meti os aparelhos de volta no bolso e olhei para o escravo que tinha à Minha beira, de corpo coberto de borrões de tinta de todas as cores. Aproximei-Me dele e tratei de lhe retirar o capacete de protecção e a mordaça que Eu lhe havia colocado na boca, para de seguida lhe agarrar nos cabelos e fazê-lo andar atrás de Mim até Eu Me sentar numa caixa de madeira robusta que ali estava ao pé e atirá-lo ao chão, ficando deitado debaixo dos Meus pés como um reles cão – nem isso, pois trato os animais melhor do que os Meus escravos.
- Como já era de esperar, perdeste. Para começarmos a tratar do teu, heh, “prémio de derrota”, vais ajoelhar e vais limpar os Meus botins com a tua boca. Perseguir-te deixou-os cheios de lama e sujidade e Eu odeio ter os Meus sapatos imundos.
Enquanto falava, comecei a pisar-lhe a cara com um dos Meus botins. A resposta do escravo foi começar aos beijos à sola do botim, para depois a sua língua desatar a remover a camada de lama que ali tinha ficado agarrada. À medida que ele ia lambendo a lama, pude ver a sua careta de nojo com aquela tarefa; e como Eu sou sacana, esfreguei-lhe a sola do outro botim na testa, deixando-o ainda mais enlameado e porco. Deixei-o chupar os tacões dos botins apenas e só quando o resto do sapato ficou imaculado e livre de porcaria. Quando ele parou a limpeza, aparentemente porque achava que os Meus sapatos estavam limpos o suficiente, levantei um dos Meus pés da sua cara e inspeccionei o botim: estava limpo mas não o suficiente para o meu gosto, por isso pisei-lhe a boca:
- Podes fazer melhor que isso, verme.
O escravo murmurou um “Sim, Maîtresse” abafado e voltou a lamber os Meus sapatos. Devemos ter estado naquilo um bom quarto de hora, e só depois de todo esse tempo achei que os Meus botins estavam limpos como deve ser. Tirei-lhe os pés da cara e levantei-Me.
- Levanta-te, temos mais que fazer. À Minha frente, já.
- Sim, Maîtresse.
O escravo ergueu-se e pude ver que, depois da sua limpeza, o seu rosto estava ao consoante do resto do corpo: imundo, o que Me fez sorrir. Ele começou a andar em direcção da porta principal do edifício, sendo seguido por Mim.
No exterior, já nos esperava um outro escravo à beira de um carrinho eléctrico da frota que Eu havia adquirido para circular por toda a propriedade. Aquele Meu servo, o nº 9, envergava um catsuit de cabedal, a farda que todos os Meus escravos tinham de utilizar a não ser que Eu desse ordens em contrário. Assim que nos viu, ele ajoelhou-se no chão.
- Quais as Suas ordens, Maîtresse? – interrogou ele.
- Leva-nos para a área arborizada da propriedade. O Meu saco?
- Está no banco de trás.
Não respondi mas sentei-Me no banco traseiro e indiquei o lugar a Meu lado para o escravo nº 16 se sentar, enquanto o outro se sentava atrás do volante e nos guiou até à área que eu havia indicado, numa das pontas da Minha propriedade, cheia de árvores altas de troncos largos, precisamente aquilo que Eu queria.

Assim que chegámos perto de um bosque, o carrinho eléctrico deteve-se; Maîtresse Amélia saiu do Seu lugar e gesticulou para que eu fizesse o mesmo, ao que eu obedeci, um pouco temerosamente. Depois de quase ter vomitado após ter limpo os botins da minha Dona, estava bastante receoso do que Ela me iria fazer – o que me tinha dado náuseas não era o contacto com os Seus sapatos, nada disso: mas o facto de ter de lamber e quase comer terra e lama dava-me a volta ao estômago. A Sua mão, munida de unhas afiadas com as quais gostava de arranhar os Seus escravos, agarrou-me com força pelo braço e guiou-me na direcção de uma árvore de tronco grosso, sendo seguido pelo meu colega que segurava o saco da Maîtresse.
- Abraça a árvore. Fica quieto e não te mexas. – ordenou-me Ela.
- Sim, Maîtresse.
A minha Dona deu umas passadas atrás até o sítio onde o outro escravo havia parado, começando a remexer no Seu saco e retirando de lá um novelo de corda de nylon branca; Ela entregou-a ao outro escravo e disse-lhe para ele me amarrar os pulsos à árvore. O meu colega aproximou-se de mim enquanto a desenrolava e, quando chegou ao tronco, começou a atar uma ponta da corda ao meu pulso esquerdo, atando a outra ponta ao meu outro pulso. Assim que percebi que ia ter o meu traseiro à mercê da Maîtresse, comecei a suspeitar do que Ela havia preparado para mim; e as minhas suspeitas transformaram-se em certezas quando vi que Ela já segurava na mão o Seu temível chicote bullwhip
- Já está, Maîtresse. – declarou o outro escravo assim que acabou de me amarrar.
Senti a Maîtresse voltar a aproximar-Se de mim e começar a andar à minha volta, puxando as minhas amarras, certificando-se que eu estava bem preso e não me conseguiria soltar sem ajuda. Então Ela entregou o saco ao outro escravo, despiu a Sua gabardina e entregou-lha também, parecendo uma autêntica Catwoman – faltava-Lhe apenas a máscara…
- Com que estão, escravo nº 16, achaste que Me ias vencer, que ias conseguir fugir de Mim, mas esqueces-te de uma coisa: Eu encontro sempre os Meus escravos. – comentou a Maîtresse, e enquanto falava, ia passando o cabo do chicote pelas minhas costas, arranhando-mas com a ponta aguçada que aquilo tinha – E, como tal, apenas precisei de meia-hora para te encontrar e te encher o corpo de manchinhas. A tua arrogância merece ser castigada, escravo nº 16. Da forma que Eu mais gosto. – e senti-A a afastar-se de mim. Fechei os olhos, respirei fundo e preparei-me para o que aí vinha…

Assim que fiquei à distância suficiente para começar a “trabalhar”, comecei a agitar o bullwhip, ganhando balanço, para depois desferir a primeira chicotada nas costas do escravo nº 16, que soltou um berro assim que a pesada tira de cabedal lhe desenhou um sulco encarnado nas costas. Sorri e voltei a ganhar balanço para lhe dar mais uma chicotada.
Fui descarregando o castigo ao escravo de forma lenta e metódica, não abusando: queria marcar o escravo mas não destruí-lo. Dei sempre tempo ao escravo para se preparar, para respirar fundo, antes de o pesado bullwhip lhe bater nas costas, uma e outra vez. Não falei, não me ri; estava na Minha zona, totalmente concentrada na tarefa que tinha em mãos, fazendo aquilo que Eu adorava fazer: castigar homens, reduzi-los à sua insignificância, mostrar a Minha Superioridade enquanto Mulher sobre aqueles seres disformes e inferiores. Não sei quantas vezes lhe bati, quantas vezes o Meu pesado látego lhe marcou a pele, mas foram em quantidade suficiente para ele ficar com as costas e nádegas cheias de vergões encarnados.
Deve ter passado quase uma meia-hora até que os Meus braços começaram a doer e Me fizeram dar por encerrada aquela sessão de chicoteamento. Deixei cair o bullwhip no chão, dei uns passos atrás e fiquei a admirar a Minha obra. O escravo nº 16 tinha deixado cair a cabeça e respirava fundo, como se tivesse acabado de correr a maratona. Dirigi-me ao escravo nº 9 e retirei novamente a máquina do bolso da Minha gabardina, para tirar mais umas fotos às costas e rabo marcados do escravo nº 16.
- Vou imprimir e afixar estas fotos na parede da sala de jantar da Mansão, escravo nº 16. – declarei, assim que acabei de tirar fotos – Diria que o teu corpo, da forma como o decorei, dá um bom quadro. Acho que lhe vou chamar “Manchas e Riscos num Coirão”.
Enquanto fui falando, aproximei-Me do escravo amarrado à árvore e comecei a arranhar-lhe as costas com as Minhas unhas, passando-as pelas feridas que ele tinha nas costas, o que o fez silvar de dor e voltar a morder os lábios.
- Que tens a dizer, escravo? – sussurrei-lhe ao ouvido, sem parar de o esgatanhar.
Ele grunhia mas ainda pôde responder:
- O-obrigado… M-Maî-tresse… por p-perder o-o… o Seu tempo c-comigo…
Soltei uma gargalhada.
- Acho muito bem que Me agradeças. Podia ter empregue este tempo em algo mais construtivo, mas optei antes por te dar caçada… o que não é propriamente tempo perdido: sempre Me diverti a caçar-te e a castigar-te. E, agora, vais ficar aí durante umas horinhas amarrado à árvore. Simplesmente porque Me apetece.
- S-sim, Maîtresse…
Dei meia-volta e dirigi-Me ao escravo nº 9, que assistira ao chicoteamento impassível no seu lugar e já segurava a gabardina para Eu a vestir; depois fui buscar o Meu chicote e sentei-Me no banco de trás do carrinho enquanto o enrolava. O escravo nº 9 colocou as Minhas coisas a Meu lado no banco, sentou-se no lugar de condutor e arrancou em direcção à Mansão, deixando o escravo nº 16 para trás.

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