domingo, 24 de janeiro de 2010

Jogo de prazer

Deito óleo nas mãos e passo-o pelos braços, pelo corpo. Sinto-me pegajosa, mas, ao olhar para o catsuit em cima da cama, varro essa sensação da cabeça.
Pego nele e começo a vesti-lo. Primeiro as pernas – que escorregam para o seu lugar graças ao óleo – depois o baixo torso – e suspiro ao sentir a borracha reforçada dos lábios artificiais a ficar em contacto com os meus verdadeiros lábios vaginais – e em seguida, os braços. Sinto-me confortável dentro daquela segunda pele.

 
A custo – e com algum contorcionismo – consigo puxar o fecho da parte de trás do meu catsuit. Massajo o meu corpo, sentindo a borracha transparente a aderir à minha pele, sentindo-me excitada.
A minha mão dirige-se para o capuz que repousa a meu lado, na cama; segurando-o, vou-o colocando na cabeça, enfiando o meu cabelo encaracolado debaixo dele. Quando sinto o látex a tocar-me no rosto, começo a sentir-me diferente, mais ousada, mais… “liberta”. Puxo o fecho do capuz para baixo e dirijo-me para o espelho.
Miro-me durante alguns instantes, apreciando o meu novo “eu”, distorcido por aquela camada de borracha meio-transparente. Não consigo deter as minhas mãos, antes que elas comecem a massajar o meu baixo ventre.
Subitamente, sou despertada da minha distracção por um grito de “GOLO!!!” vindo da sala, no rés-do-chão. Sorrio maliciosamente: como tu vais ter uma surpresa…
Abro o meu guarda-fatos mais “kinky”, onde tenho guardadas todas as minhas roupas mais picantes e os meus brinquedos sexuais. Escolho meia-dúzia de roupas também feitas do mesmo material do meu catsuit e coloco-as na cama, vestindo-as lentamente, sem pressas: um soutien e uma tanga, dois corpetes (um normal, outro para o pescoço), um cinto de ligas e meias, uma peruca loira, o meu fato de empregada e, para finalizar, os meus sapatos de salto-agulha amarelos.
Mais uma vez, olho-me ao espelho, de alto a baixo, verificando se tudo está perfeito. Sorrio novamente, a pensar na surpresa que te irei fazer – e se terás vontade de continuar a ver o teu jogo de futebol.
Desço as escadas e entro, lentamente, na sala. Estás estendido no sofá, a ver o jogo da Selecção. O som dos meus saltos ecoa pela divisão, sobrepondo-se mesmo ao som da televisão.
Vejo-te a olhares para mim rapidamente, com o teu olhar a voltar num ápice para a TV – estou de costas para a janela, por isso não me consegues ver bem, a surpresa que tinha feita para ti. Sempre a sorrir, vou até lá e desligo o aparelho.
- Então, Isabel? – protestas.
Aproximo-me de ti, colocando um dedo coberto de borracha junto dos teus lábios – e vejo os teus olhos esbugalharem-se quando constatas como eu estou vestida.
- Ssshhh, mon amour… esquece o jogo: hoje és meu. – a minha voz altera-se: estou mais dominante, mais possessiva.
Soltas um grunhido, mas não tens resposta quando te agarro na t-shirt e ta dispo. Desaperto o cinto das tuas calças e baixo-tas, ficando com a tira de cabedal nas mãos. Sento-me em cima do teu colo, sempre a sorrir, e sinto-te crescer por debaixo dos boxers. Agarro nos teus pulsos com uma mão e aperto o teu cinto à volta deles, enquanto sentes a minha roupa, a minha pele de borracha, de encontro à tua pele nua.
- I-Isabel…? – perguntas, receoso.
- Ssshh…
- O… o que estás a fazer? – insistes.
- Sshhh, tais-toi, mon chèri, tais-toi… – e calo-te com um beijo na face.
Vejo-te desesperado por mais, vejo a tua pele a ficar arrepiada. Queres mais, mas terás de esperar. Acaricio-te o corpo com as minhas mãos, vou passando a minha cara pelo teu peito, lambendo o teu corpo, e ouço-te gemer de prazer. Sinto-te a perder o controlo: se não te tivesse prendido as mãos, o que me estarias a fazer… mas limitas-te a agonizar.
A minha mão mete-se por debaixo dos teus boxers e acaricia-te o membro, agarrando-o de súbito. Oiço-te suspirar, quase implorando que a minha mão te proporcione alívio – mas é sol de pouca dura, pois depressa a retiro de lá. E, perante o teu olhar inquiridor, apenas digo:
- Queres prazer? Dá-mo primeiro…
Baixo as minhas cuecas de borracha e aceno-as à frente do teu nariz – contem o meu cheiro, a minha essência. Atiro-as para o chão e sento-me sobre a tua cara, com os teus lábios em contacto com os meus falsos lábios vaginais.
- Lambe-me o tesouro! – ordeno-te.
A tua língua entra em mim e não consigo suster um grito de prazer. Agarro-te o cabelo lindo e sedoso e mantenho-te naquela posição, em que nada mais podes fazer senão enfiares a tua língua magnífica em mim. Uivo incessantemente enquanto te debates, enquanto me perfuras, enquanto me dás prazer oral. Insulto-te, apelido-te de puta e de escrava, puxo-te os cabelos, e continuas a lamber a minha vulva, a beijá-la.
O prazer que sinto no meu clitóris sobe-me ao abdómen e começa-me a deixar sem respiração. Começo a sentir-me algo tonta, mas sinto-me quase a rebentar de prazer – e a única coisa que fizeste foi penetrar a minha vulva com a tua língua!
Largo-te o cabelo e levanto-me de ti, tentanto recuperar. Vejo-te, o teu olhar de cachorrinho abandonado, a implorar-me que volte para ti. Vejo o alto que tens nos boxers, a implorar que seja aliviado. Com um sorriso nos lábios, vou, lentamente, retirando o meu uniforme, fazendo um strip-tease à tua frente, e, de seguida, retiro o soutien. Provoco-te, abanando-me à tua frente, fazendo com que o odor da minha segunda pele, o odor da borracha, que tu tanto adoras, te chegue às narinas.
Aproximo-me de ti novamente, com o teu olhar fixo em mim. Deito-me novamente sobre ti, com o meu baixo-ventre sobre a tua cabeça, mas desta vez, comigo a olhar para os teus boxers. Divirto-me a ver a tua pele totalmente arrepiada, de estares em contacto com a minha segunda pele. Baixo a tua roupa interior de súbito e murmuras um “ai, meu Deus…” quando a minha mão agarra firmemente no teu membro.
- A tua língua dentro de mim outra vez, já! – grito, dando-te uma palmada nas nádegas.
É num ápice que a tua língua volta a entrar dentro de mim, e que volto a sentir-me nas nuvens. Começo a masturbar-te com a mão esquerda, a acariciar o teu membro na minha cara, a beijá-lo. A tua língua mexe-se a um ritmo impressionante, é inacreditável… e sinto-me a perder o controlo novamente. Mas desta vez, não me detenho – fico a receber os teus estímulos, e para ajudar, faço-te algo que adoras: a minha mão esquerda aproxima-se das tuas nádegas, e os dedos indicador e médio entram-te no ânus, penetrando-te vorazmente.
- AI… ai que… – começas.
- Cala-te e lambe, puta! – grito.
Dentro em pouco, é inevitável: primeiro eu, depois tu, atingimos os nossos clímaxes, cada um enchendo o outro dos seus flúidos e gemendo consoante as ondas de prazer percorrem os nossos corpos. Sinto-me extremamente quente dentro do meu catsuit, mas sabe-me bem. Lambo os lábios, cobertos da tua essência, e beijo a cabeça do teu membro, carinhosamente, enquanto continuo a penetrar-te o ânus – quero esvaziar-te da tua essência! E gemes, impotente para contrariar a minha vontade.
Quando me sinto saciada, levanto-me de ti, limpando com os dedos as gotículas dos teus flúidos que ficaram no meu rosto, no meu peito – e chupando-os logo a seguir. Solto-te os pulsos e deito-me a teu lado, beijando os teus lábios, também ainda sujos, também ainda com a minha própria essência lá. Os teus braços envolvem-me, assim como os meus te abraçam. E ficamos ali a beijarmo-nos, contigo totalmente esquecido do jogo da Selecção e apenas fixo em mim – como deve de ser.

[história criada para a rúbrica "Conto da Semana" do fórum BDSMPortugal]

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