segunda-feira, 20 de julho de 2015

O rapto da larva

(história anterior)

O estrondo apanha-nos a todas de surpresa. É quase como que uma explosão, que abala toda a zona da área dos casulos, onde eu e as minhas irmãs nos encontramos. Tento pedir ajuda mental à minha Rainha e Ela transmite-me que as soldadas já estão a acorrer ao local onde houve aquele estrondo para ver o que se passa. Naquele momento, a minha barriga começa a doer: sinto necessidade de pôr mais um ovo. Deito-me de costas no chão e abro as pernas, por forma a permitir que o ovo saia de mim sem dor.


De súbito, começa-se a ouvir o som de uma zaragata lá fora. Quero sair, ver o que se passa, mas o ovo a descer pela minha vagina impede-me de fazer grandes movimentos… Volto a perguntar à minha Rainha o que se passa e Ela diz-me que a nossa colónia está a ser invadida! É a primeira vez que oiço falar em ataques… Começo a ouvir guinchos, de dor, de raiva, de vitória, ao mesmo tempo que o ovo, finalmente, me sai do corpo, caindo com delicadeza no chão do meu casulo.
Logo a seguir, levanto-me do chão e, com as minhas mãos de borracha ao estilo de pinça, forço a abertura do meu casulo, vendo um espectáculo dantesco: as soldadas do nosso ninho estão à luta com umas criaturas esquisitíssimas! Têm um torso de forma humana a sair de um corpo com seis patas, segmentado, como o de uma formiga gigante: o torso possui dois braços musculados e fortes, que terminam em pinças idênticas às nossas, e as suas cabeças possuem dois olhos compostos, um par de antenas e duas tenazes ameaçadoras, com as quais vão dando dentadas nas soldadas ao mesmo tempo que as agarram com força e as esmagam entre as suas pinças, mas de resto a sua cabeça é lisa. A sua pele é totalmente preta brilhante. No total, são um pouco mais baixos que as nossas soldadas, mas ganham-lhes em massa corporal. Sinto-me a entrar em pânico ao ver que aquelas criaturas estão a obrigar as nossas a recuar, começando a aproximar-se da área dos casulos onde eu me encontro! Hesito, sem saber o que hei-de fazer; tento contactar a nossa Rainha, mas desta vez Ela não me responde, o que é lógico, estando mais ocupada a dar ordens às soldadas para nos defender. Mesmo assim, sinto medo das intenções daqueles desconhecidos. Parecem ameaçadores. O chão está coberto de cadáveres de soldadas e invasores – mas, infelizmente, mais dos nossos.
É então que os invasores chegam à área dos casulos. Numa medida desesperada, as minhas irmãs começam a atirar ovos às cabeças dos invasores. Querendo imitá-las, vou buscar o que acabei de pôr, agarro-o e volto para a abertura do meu casulo. Subitamente, um invasor atira-se a mim e agarra-me nos pulsos, fazendo-me largar o meu ovo, que cai no chão e parte-se. A sua força é demasiada para mim: sinto quase que ele me quer partir os braços! Grito por ajuda e olho ao meu redor: as soldadas estão a dar tudo por tudo para defender as minhas irmãs procriadoras, tentando impedir que os invasores avancem mais para diante. Tento que alguma delas me veja e tente tirar-me das mãos daquela besta, peço ajuda mental à minha Rainha… mas é inútil: eu sou só uma, há que proteger as restantes que ainda não foram capturadas. O invasor que me agarrou prende-me os pulsos só com uma das suas pinças e ergue-me do chão, atirando-me na direcção de um grupo de companheiros dele, que prontamente me atam os pulsos atrás das costas e os tornozelos com uma espécie de teia. Grito por socorro, alto e bom som, o que faz aos invasores soltarem uns guinchos que interpreto como sendo de prazer. Depois de se certificarem que eu estou bem presa, dois deles pegam em mim e metem-me às costas de um outro invasor, que prontamente começa a correr nas suas seis pernas, na direcção da abertura que eles haviam feito na parede do nosso ninho.
Ao que parece, pelo que consigo ver, os invasores estão todos a retirar. As soldadas estão a conseguir empurrá-los para trás, para longe dos ninhos e em direcção ao local onde entraram. Tento uma última vez pedir ajuda à minha Rainha.
“- Onde estás, Pétala?” – responde-me Ela.
“- Fui capturada, minha Rainha… estou a ser levada para fora do ninho. Por favor alguém me ajude!”
“- Querida Pétala, vamos tentar fazer o possível, mas sofremos muitas baixas, e a segurança do ninho é prioritária a tudo o resto.” – é a resposta lacónica da minha Rainha, que eu sei ser verdade mas que gostava que não fosse…
“- Minha Rainha, por favor… salve-me!” – imploro uma última vez.
Mas a minha Rainha desta vez não me responde. E, num ápice, os invasores saem do ninho – levando-me com eles.

Os invasores caminham em passo rápido durante muito tempo por um túnel escuro, feito quase à justa para eles. Vou berrando todo o caminho para me largarem, para me deixarem ali, até que, eventualmente, um deles me coloca na boca uma espécie de teia pastosa e me silencia. Tento agitar-me para tentar cair no chão mas também essa ideia me sai gorada, pois estou muito bem presa ao dorso daquele invasor. Assim, nada mais me resta senão ver o que têm programadas aquelas criaturas para mim…
A caminhada termina quando o túnel se abre numa sala gigantesca, cheia de fungos, bastante semelhantes aos que as trabalhadoras do meu ninho me davam para eu comer. Não nos detemos aí, todavia: aquela sala tem uma miríade de outras entradas para túneis, e o exército de invasores divide-se aí. O meu captor envereda por um daqueles túneis que, depois de passar por diversas outras salas, mais pequenas, e algumas ramificações, vai ter a um outro compartimento, mais pequenino, onde outra criatura está à minha espera. O invasor que me trouxe ali tira-me do seu dorso, com alguma rispidez – ele consegue-se voltar por completo para trás! – e atira-me para o chão sem qualquer cerimónia. Depois disso, sai daquele compartimento e fecha a entrada com uma grande bola de terra… deixando-me fechada à mercê daquela criatura.
Olho com cuidado para aquele ser. Possui o mesmo esquema corporal dos meus raptores, sendo à mesma uma mistura de um ser humano com uma formiga, mas o seu corpo é mais débil e mais pequeno. A sua cabeça possui uma boca com as mesmas tenazes dos invasores mas com um aspecto menos aterrorizador, para além dos olhos compostos e das antenas. Ele aproxima-se de mim e vira-me de barriga para cima, depois debruça-se sobre os meus tornozelos presos e, com as pinças, rompe a teia que mos prende, para logo a seguir me agarrar neles com as pinças e me abrir as pernas. Tento impedi-lo de o fazer mas ele, apesar de ter um físico menos impressionante que os que me raptaram, é ainda mais forte que eu. Ele aproxima-se de mim e é então que reparo em algo que vai crescendo a partir do seu segmento do meio, uma espécie de dedo que vai aumentando de grossura e de tamanho, até se parecer muito pouco com um dedo e mais com um falo enorme! Quando vejo aquela coisa, entro em pânico e começo a debater-me, mas ele continua a prender-me com força. Ele posiciona-se por cima de mim, agarra no falo com as suas mãos e maneja-o de forma a enfiar-mo na minha vagina.
Quando aquele órgão entra em mim, eu berro de dor: é bem maior que o da minha Rainha! A criatura penetra-me durante bastante tempo, magoando-me sem cessar: dá ideia de ele não se importar comigo ou com o meu bem-estar… o que me vale é eu ter um corpo bastante elástico, caso contrário ele estaria a rasgar-me toda. Com uma mão, ele tira-me a teia da boca e eu não perco a hipótese de o insultar com todos os nomes que sei, chamando-lhe tudo e mais alguma coisa; mas se ele me percebe, não liga nenhuma, continuando a enfiar-me aquele falo na minha vagina. Ele não se detém nem por um segundo, sempre com a mesma cadência, sem abrandar nem acelerar.
De súbito, sinto o meu interior ser preenchido com uma substância pastosa e desconfortável. Diria que ele está a largar o seu suco fecundatório. Depois de uns instantes a encher-me daquilo, a criatura retira o falo da minha vagina e aponta-o para a minha cabeça, impregnando-me a boca com aquela mistela. É um líquido espesso e escuro, quase semelhante a óleo; tento cuspi-lo mas acabo por engolir algum dele. Sabe horrivelmente! Custa a descer para o estômago, de tão pastoso que é. Enquanto isso, a criatura volta a enfiar-me aquele órgão na vagina, voltando a penetrar-me durante mais algum tempo, até atingir outro orgasmo (ou o que quer que seja que aquilo é) e voltar a preencher-me com aquela pasta oleosa e nojenta. Volto a tentar pedir ajuda mentalmente à minha Rainha, mas Ela não me responde… sinto-me abandonada.
Pouco depois, ele retira aquele falo de dentro de mim, que, à medida que o tempo passa, vai mirrando até desaparecer por completo. A criatura agarra-me no tornozelo esquerdo e, com um bocado de teia que expele da boca, prende-mo ao chão, fazendo a mesma coisa com o meu tornozelo direito e deixando-me de pernas abertas; para finalizar, ele solta mais um pouco de teia e prende-ma em volta do peito e cola-me ao chão. Com esta tarefa terminada, ele caminha em direcção à outra ponta do compartimento, onde se detém, parecendo arquear-se um pouco, e solta um guincho de fazer doer os ouvidos, para depois cair no chão. Fico à espera que a criatura se mexa… em vão. Está morta!
Em pânico, tento perceber a minha situação. Estou fechada num compartimento pequeno com um cadáver de uma criatura que me penetrou e me impregnou com a sua essência, e começo a sentir arrepios ao pensar no que pode vir a suceder-me. No mínimo das hipóteses, morrerei à fome. No máximo, algo sairá de dentro de mim com vontade de devorar o meu corpo indefeso…
É então que os meus receios se confirmam, quando sinto uma dor excruciante dentro de mim, dentro da minha vagina. Tenho algo vivo dentro de mim a querer sair do meu corpo! Grito e berro, clamo por ajuda, mas ninguém vem ter comigo. Algures, ao longe, oiço mais berros semelhantes aos meus: decerto outras irmãs minhas, a partilharem a mesma triste sorte comigo. Começa a sair-me algo pela minha vagina, algo que nem consigo descrever, de tão esquisito que é: parece uma crisálida qualquer, sem cabeça, nem patas, do diâmetro da minha cabeça… se eu não tivesse o meu corpo totalmente elástico, aquele nascimento rebentaria comigo.
É com uma sensação de alívio indescritível que aquela “coisa” sai de dentro de mim, ficando eu logo estupefacta a olhar para ela. Apesar de vir ainda rodeada de muco (para lubrificar a passagem pela minha vulva), podia-se ver que era um corpo com uma forma (muito) vagamente cilíndrica, de cor preta brilhante e duas protuberâncias laterais que, com o tempo, se desenvolveram até redundarem em dois braços terminados em pinças. Com os braços, a criatura arrasta-se até ao meu corpo, subindo para cima de mim, enquanto eu tremo como varas verdes, receando o que ela me vai fazer. Naquela altura, olho para baixo e vejo uma protuberância a desenvolver-se na sua extremidade mais longínqua, que vai aumentando de tamanho a olhos vistos até ficar quase do tamanho de um dos seus braços; sem hesitar, aquela protuberância entra-me na vagina, fazendo-me gemer de surpresa… e de terror. Naquela altura, a criatura está toda em cima do meu corpo e algo massaja-me o clitóris e começa a dar-me prazer, fazendo-me esquecer por momentos a minha situação perigosa. Fecho os olhos e os meus gemidos passam a ser de deleite, à medida que a criatura me vai acariciando o clitóris e a vagina por dentro. A criatura estimula-me, afagando-me o clitóris com delicadeza; deito a cabeça no chão e fecho os olhos, começando a arfar com aquele toque que me excita e me faz esquecer a minha situação. É até à altura que não aguento mais e atinjo o meu clímax, comigo a gemer de prazer… mas com pena por aquele orgasmo não ter sido provocado pelo órgão da minha Rainha. A criatura, todavia, não quer saber disso: mesmo com o meu clímax, ela não pára de me estimular, enquanto a protuberância que tenho dentro de mim começa a esfregar-se nos meus fluidos, a bebê-los (se é que isso é possível)… e ela não pára de me estimular! Dá ideia que ela me quer secar, que quer beber todos os meus fluidos!
O meu clímax dura imenso tempo, graças ao estímulo da criatura; mas eventualmente a protuberância começa a mirrar. Nessa altura, abro os olhos e apanho um susto: a criatura já ganhou uma cabeça! É em tudo uma cabeça semelhante às dos invasores, com tenazes de aspecto ameaçador. Com os braços, aquela criatura arrasta-se de cima do meu corpo e vai até ao cadáver da que me havia fecundado; com as pinças e as tenazes, começa a dilacerá-lo e a consumi-lo. Fico estática a olhar para aquele espectáculo horrendo e reparo que, ao mesmo tempo que ela vai comendo os pedaços do corpo, vai aumentando de tamanho e desenvolvendo o seu corpo. Quando a criatura acaba a sua refeição, já está do mesmo tamanho dos invasores, estando a acabar de desenvolver o seu corpo segmentado e as patas. Com a transformação finalizada, ela levanta-se com um guincho, dirige-se para a entrada do compartimento, empurra a terra com os seus braços musculados e sai dali.
Fico especada a olhar para o lugar onde se encontrara até há pouco o cadáver da criatura que me violara. Que raio de criaturas são estas? Que raio de sociedade é esta? Que papel é o meu aqui? E será que eu poderia ser resgatada dali e voltar ao conforto e carinho do meu ninho?
Os meus pensamentos são interrompidos pela aparição de uma nova criatura. Esta tem a mesma estrutura corporal que as anteriores mas é bastante mais pequena: se eu me pudesse colocar de pé, chegar-me-ia à cinturinha. Na pinça direita, ela traz um pedaço de fungo. Ela aproxima-se de mim e coloca-me o fungo ao alcance da boca, à espera que eu o morda. Esfomeada como eu estou, dou uma dentada enorme naquilo e mastigo sofregamente, acabando com aquele fungo em menos de nada. Ela desaparece para regressar logo a seguir com outro pedaço, que como com a mesma vontade. Depois de me dar uma meia-dúzia de bocados de fungo, ela desaparece, deixando-me sozinha.
Fico sozinha durante algum tempo, durante o qual eu tento, uma última vez, chegar à minha Rainha e pedir-Lhe ajuda. Só que nunca consigo chegar à “fala” com Ela… e, assim que uma criatura semelhante à que me violou entra no compartimento e volta a selar a entrada com terra, sinto a minha esperança desvanecer.
“- Pétala?” – oiço na minha cabeça. Sinto um regozijo enorme quando reconheço a voz doce e suave da minha Rainha!
“- Sim, minha Rainha, aqui estou!”
“- Onde estás? O que se passa?” – naquela altura, a criatura começa a aproximar-se de mim e posiciona-se entre as minhas pernas abertas.
“- Estou num compartimento qualquer, minha Rainha… já fui violada por uma criatura destas e outra prepara-se para me fazer o mesmo… por favor, salve-me!” – imploro, quando a protuberância se começa a desenvolver no seu segmento central.
“- Pois, Pétala… não é possível. Estás demasiado longe de nós para podermos ir aí, para além do facto de as nossas soldadas terem sofrido uma enorme razia. Se Eu as enviasse para te salvar mais às tuas companheiras que foram levadas, o mais certo é que elas seriam aniquiladas. Lamento imenso, minha doce e querida Pétala.”
Não sei o que me dói mais: aquelas palavras ou a protuberância da criatura ao entrar na minha vagina.
“- Mas, mas… minha Rainha, por favor, não me abandone!”
“- Desculpa. E adeus, querida Pétala.”
- Minha Rainha!!!
O meu grito sai-me do fundo do peito, assim que sinto a ligação psicológica a ser definitivamente quebrada. É como se me cortassem o pescoço, mas a dor da perca, a dor psicológica, sobrepõe-se à física, é infinitamente pior. Alheia a tudo isto, a criatura continua a violar-me com vigor.
Acabo de perder a única finalidade da minha vida. Perdi a minha Rainha. Olho para a criatura e penso “podes violar-me à vontade”. Que me interessa a mim se dão cabo do meu corpo, se o usam para se reproduzirem? A minha Rainha abandonou-me. Não me interessa se me violam, se me sugam os fluidos todos ou me usam como alimento. Só me resta definhar e morrer.

1 comentário:

  1. Conclusão: a dor de perder algo, de ser esquecida, a dor psicológica afecta como eu digo sempre, Pode não haver muitos sentimentos mas o sentimento de perder algo doi bastante. Gostei muito. beijinhos

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