segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Bodas de madeira (parte 1)

(história anterior)

Cinco anos passam num instante. Parecia impossível que já havia passado tanto tempo desde que Márcia e eu havíamos dado o nó. E no entanto haviam passado de facto cinco anos desde esse dia, cinco anos cheios de amor, carinho, romance e paixão, mas também cheios de sexo, sexo e mais sexo, com aquela ruiva infernal a fazer de mim a sua puta – e a fazer-me suplicar por mais.


Para assinalar as nossas bodas de madeira, uma semana antes comecei a fazer alguns planos, tentando antecipar-me à minha marida… em vão, pois ela acabou por me dizer para não reservar nada para aquela noite – e para os dias seguintes, pois por coincidência o nosso aniversário calharia a uma sexta-feira. Encolhi os ombros e sorri: não me aborrecia mesmo nada quando ela decidia fazer as coisas à sua maneira.
E chegou o grande dia. Contrariamente às minhas expectativas, nenhuma de nós teve direito ao dia (eu até suspeito que, se Márcia tivesse pedido, os nossos patrões dispensavam-nos), ou seja tivemos de estar enfiadas no escritório até às 17h (ou melhor dizendo: eu tive, pois Márcia ausentou-se algumas vezes). Todavia, assim que foi hora de sairmos, nem foi preciso dizermos nada: quase corremos em direcção ao carro, rumo a casa.
Assim que chegámos à beira do portão que dá acesso à nossa garagem, Márcia parou o carro; eu ia abrir a porta e levantar-me mas a sua voz deteve-me:
- Não.
- Então? – perguntei, curiosa.
- Quer dizer… Podes ir la deixar as nossas coisas, mas depois voltas logo para aqui. Temos muito para andar.
- Nem sequer mudamos de roupa?
- Na-da. Vens assim como estás.
- OK, querida. – debrucei-me para trás do banco, agarrei nas pastas onde costumávamos trazer algum trabalho para casa e saí do carro.
Não demorei muito tempo a regressar, pois estava em pulgas para saber quais eram os planos de Márcia. Fui a correr pelo chão revestido a mármore da nossa rua, com os meus sapatos de salto alto a fazerem estardalhaço.
Assim que me sentei novamente no banco do passageiro e coloquei o cinto, Márcia riu-se:
- Para quê tanta pressa, totó?
- Oh, estou em pulgas para ver que planeaste tu para esta noite.
Ela soltou uma gargalhada, voltou a ligar o carro e começou a andar.

A nossa viagem acabou por ser mais longa que o que eu esperava e terminou em Beja, eram quase horas de jantar. Assim que vi a placa da cidade, fiquei um bocadinho desiludida, pois esperava que Márcia tivesse parado o carro durante a viagem, me levasse para um descampado e me desse uma queca, como já o fizera antes1, mas aparentemente a minha marida estava tomada por romantismo apenas e só, fazendo toda a viagem com a minha mão entrelaçada na dela (nem para mexer nas mudanças ela a tirou!). Não quero que me entendam mal: eu adorei fazer aquele percurso, adorei aquele sentimento de amor que ela emanava! Mas…
Andámos às voltas pelas ruas da cidade, com Márcia aparentemente à procura de algo; pouco depois parámos perto de um restaurante típico. Márcia saiu do carro e eu fui atrás dela, com os nossos sapatos a ecoarem contra o empedrado da rua. Entrámos e fomos conduzidas para uma mesinha para dois, num dos cantos do restaurante.
Não me vou alongar muito em relação ao nosso jantar. Foi agradável, Márcia esteve sempre a olhar para mim, a tocar-me na mão (ou a provocar-me por baixo da mesa, roçando a sua perna na minha), mas por mais de uma vez notei nas pessoas a olhar para nós, a sussurrarem entre elas pelo facto de estarem ali duas mulheres, bem vestidas (com aspecto de “tias de Cascais”, visto estarmos vestidas com roupa formal – eu com casaco e saia pelos joelhos, Márcia com casaco e calças, com botas por baixo, o visual habitual do trabalho) e totalmente femininas, de mão dada e alianças de casamento idênticas. Não sei se isso afectou a minha marida, mas a mim deixou-me um bocadinho incomodada e fez com que não apreciasse bem a fundo o entrecosto com migas de espargos que pedi. E por isso acabei por querer sair dali o mais rapidamente possível, com Márcia a seguir-me.
Pensei que fôssemos passar ali a noite, por isso admirei-me quando, após termos entrado no carro e arrancado, a vi dirigir-se para a saída de Beja. Foi aí que a interroguei:
- Márcia, diz-me para onde vamos, por favor. – declarei, determinada.
Mas ela apenas olhou para mim, riu-se e continuou em frente. Apenas uns quilómetros mais à frente é que ela disse:
- Preparei uma escapadinha romântica para nós duas, à beira-rio. Só mais uns quilómetros…
Resposta sem adiantar nada, como era apanágio da minha marida sempre que ela fazia planos. Encolhi os ombros e deixei-me ir.

Apanhámos a estrada que indicava Vila Real de Santo António e ainda viajámos por estrada boa durante bastante tempo. Subitamente, Márcia virou o carro para uma estrada secundária, depois meteu o carro por um caminho de terra batida e, a meio do caminho, parou-o e desligou-o, trancando as portas. Olhei para ela, curiosa.
- Que se passa, amor? – perguntei, sentindo-me aquecer por dentro.
Márcia não respondeu, optando antes por abrir os botões da sua camisa às riscas azuis e brancas e revelando o seu soutien negro, de vinil, com fivelas nas alças. Fiquei boquiaberta a olhar para ela: não tinha dado por ela vestir aquela peça de lingerie antes de sairmos de casa de manhã!
- Desaperta-me o soutien, querida. Depois deixo à tua imaginação o que quiseres fazer… isto, claro está, se quiseres que te faça alguma coisa!
Lambi os lábios, tentando refrear-me; depois acabei por obedecer-lhe, pegando nas alças sintéticas do soutien e puxando-as para o lado, fazendo com que os seus seios ficassem descobertos à minha frente. Márcia puxou o banco para trás, dando-me mais espaço para me colocar sobre ela; logicamente aproveitei e deitei-me sobre ela, magoando-me na alavanca das mudanças – mas não me importei com isso. Mas assim que me deitei sobre ela, senti algo duro na zona do seu baixo-ventre.
- Querida, que tens aqui? – interroguei-a, jogando a mão para lhe apalpar aquela zona… mas Márcia agarrou-me na cabeça e puxou-me para cima, fazendo-me quase enfiar o seu seio direito na minha boca.
- Shhh, cala-te e chupa, Andi! Já te disseram que falas demais?
Mesmo que eu quisesse, não podia responder-lhe: a sua mão mantinha-me firmemente imóvel sobre ela, obrigando-me a ter a cara encostada ao seu peito. Mas eu optei antes por fazer o que ela (e eu…) queria: com a língua, comecei a lamber-lhe a auréola e o mamilo, para depois chupar nele. E claro que Márcia começou desde logo a gemer… Com a outra mão, toquei-lhe no outro seio com gentileza, passei a ponta da unha do dedo indicador (pintada de rosa pálido) pelo mamilo, sentindo-o um tudo-nada mais flácido que o que eu avidamente chupava; e logo o meu polegar juntou-se ao indicador e começaram a estimular aquela zona erógena da minha marida.
- Ai, Andi… – ela gemia, de olhos fechados, e agitava-se entre mim e o banco.
De um lado, eu chupava-lhe um mamilo, do outro eu acariciava-lhe o outro. O objectivo era claro: fazê-la vir-se quanto antes, pois queria saber que me iria fazer ela. Isso motivou-me a acelerar o que lhe fazia, até os gemidos de Márcia se transformarem em gritos e a mão que me agarrava pelo cabelo o fazer com mais força: era o sinal de que a minha adorada se estava a vir. Não obstante, não parei o que lhe estava a fazer.
Só um par de minutos depois é que a mão de Márcia me obrigou a erguer, tirando o seio da boca. O seu rosto estava encharcado de suor: e de facto a temperatura no carro tornara-se algo elevada, mesmo estando nós em Março…
- Baixa-me as calças, fofa, faz-me uma mamada, faz o que quiseres… diverte-te. – sussurrou ela, sorrindo.
Recuei o melhor que consegui (não esquecendo que estávamos no banco do condutor e eu tinha o volante nas costas) até ficar quase de joelhos sobre o tapete; as minhas mãos desabotoaram-lhe as calças do fato que ela usara naquele dia e voltei a sentir aquela coisa dura… seria caso? Assim que lhe consegui puxar as calças para baixo, confirmei as minhas suspeitas: ela tinha um dildo negro ali preso! Não era dos maiores, nem aquele que expelia o líquido esbranquiçado, mas era jeitosinho…
- A minha maior pena é não poder ter uma picha a sério, sabes, paixão? Adorava poder sentir a tua boca nela, foder-te com ela, vir-me em ti e esporrar-te toda… e sei que gostas…
- Amor, eu… – comecei mas não pude ir mais longe, pois a sua mão voltou a agarrar-me pelo cabelo e obrigou-me a abocanhar aquele falo preto.
- Continuas a não aprender quando não deves falar… depois admiras-te de te engasgares com o meu magongo. Chupa… chupa, puta.
Só o facto de eu estar com aquele brinquedo na boca, sendo controlada por aquela mão forte, era o suficiente para eu me sentir húmida; e a forma como Márcia falava comigo, chamando-me puta, ajudava-me a excitar ainda mais.
- Adorava mesmo poder esporrar-te essa carinha de anjo… Uma executiva de cara esporrada, que giro que era… a minha secretária/puta… foda-se, Andi, porque te adoro tanto? Ai…
A sua mão voltou a afastar-me dela – e da sua pila – e voltou a aproximar o meu rosto do seu, dando-me um beijo cheio de desejo e paixão. Se estivéssemos num local espaçoso, eu sabia perfeitamente o que iria acontecer a seguir: Márcia iria encostar-me à parede e devorar-me, enfiar aquele dildo na minha ratinha ou no meu cuzinho até não poder mais; mas ali… Não pensei mais nisso e devolvi-lhe o beijo.
Acabei por me sentar ao seu colo, ajoelhando-me no banco com a minha marida entre as minhas pernas, puxando a minha saia para cima ao máximo para conseguir abrir mais as pernas. O meu baixo-ventre estava encostado ao seu dildo.
- Márcia, por favor, entra…
Ela não foi de modas, nem me deixando baixar ou desviar as minhas cuecas de cetim já bastante encharcadas: o seu dildo passou por entre o tecido, abrindo um buraco, e entrou-me na ratinha.
- Ah! Foda-se!
- Cavalga, Andi… cavalga… – a voz de Márcia mal se ouvia.
E comecei a agitar-me no seu colo, sentindo o “magongo” de Márcia entrar e sair de mim, levando-me à loucura. Também acabei por abrir a minha camisa branca e meter as mãos por baixo do soutien, tocando nos meus próprios mamilos e excitando-me ainda mais…
Não foi preciso muito mais para me vir.

Depois de ambas nos termos acalmado, ajeitámos as nossas roupas o melhor que conseguimos (acabei foi por ter de retirar as cuecas, visto elas estarem ensopadas e rasgadas, totalmente inúteis) e voltámos à estrada alcatroada, com Márcia a levar-nos de volta à estrada principal. Descalcei os sapatos de salto alto e enrolei-me no banco, indo sempre de mão dada com a minha marida. Enquanto o carro ia devorando quilómetro após quilómetro, a minha cabeça não parava de pensar.
Quando Márcia se queixava de que gostava de ter uma pila para me comer, eu também gostava que isso fosse verdade, pois era mesmo a única coisa que eu sentia falta dos meus tempos de namorar homens (por muito pouco sucesso que eu tivesse). Eu não nascera propriamente bissexual, nunca na vida pensara em viver com uma pessoa do mesmo sexo, nem mesmo com Márcia a ideia me passara pela cabeça ao longo da nossa infância juntas como BFFs. As coisas pura e simplesmente tinham acontecido, depois de uma noite de desabafos que terminou com Márcia a agarrar-me e a dar-me um beijo enorme, após o qual eu fugi para minha casa e me meti na cama, confusa e em lágrimas… e, no dia seguinte, mais calma, tivesse “olhado” para Márcia, começasse a compará-la com a minha definição de “alma gémea” e verificar que ela se enquadrava perfeitamente, tendo apenas a “desvantagem” de ser do mesmo sexo que eu… Depois de um dia a pensar no que haveria de fazer, fui ter com Márcia a casa onde ela vivia com os pais (ao lado da nossa), onde disse tudo o que me ia na alma sobre nós, sobre mim, sobre ela. Falámos durante horas e, a altas horas da madrugada, despedimo-nos com um beijo apaixonado e o sentimento de que não havia ninguém no mundo que nos adorasse mais do que uma à outra. Todavia, lá no fundo, eu continuava a gostar de gajos e, sempre que eu e ela saíamos à noite, eu muitas vezes metia-me a “galar” os homens, se calhar também para “picar” Márcia para ela depois ser bruta comigo na cama. E uma noite aproveitei o facto de Márcia estar cansada demais para sair para dar uma volta com amigos, onde a bebida puxou por mim e acabei aos beijos a um gajo qualquer, para depois ao chegar a casa eu ter sido “pedida” em casamento pela minha namorada – após ter sido atirada para a cama, amarrada e violada por ela. 
Todo o filme da nossa vida em conjunto me passou pela cabeça à medida que as horas passavam e nos aproximávamos do nosso destino (fosse ele qual fosse). Senti o sono apoderar-se de mim e mal dei por chegarmos a Mértola e andarmos às voltas por umas ruazinhas empedradas; apenas despertei quando a minha marida começou a manobrar para estacionar o carro.
- Chegámos, querida. – declarou ela ao desligar a ignição.
- Viemos para tão longe… – queixei-me, esfregando os olhos e olhando ao meu relógio de pulso; eram 23h15 – E é tão tarde, ainda por cima.
- Eu acho que a menina protesta demais. Vá, ajuda-me a carregar as coisas.
Com a bagagem nas mãos, fomos andando pela rua e parámos em frente à porta de uma residencial, com Márcia a tocar à campainha. Quando a porta se abriu, e depois de uma breve conversa, ela fez-me sinal para a seguir. Subimos uma escadaria com as malas às costas e, lá em cima, Márcia abriu uma porta com as chaves que lhe deram, entrando comigo atrás.
Estávamos num quarto espaçoso, que depois ainda tinha uma porta para uma outra divisão com uma cama e outra porta para a casa de banho. O tecto não era muito alto mas dava para nós duas andarmos confortavelmente. Eu sentia-me estoirada (especialmente depois daquela rapidinha no carro a meio caminho) e comecei a preparar-me para me deitar; e só então reparei no estado lastimoso em que eu tinha as minhas meias de nylon, todas cheias de malhas e buracos por causa do tapete do carro… para além do facto de as minhas cuecas terem ficado no carro.
- Sua devassa… – Márcia riu-se, olhando para as minhas pernas. Corei enquanto as despia e ia buscar a tanga com que costumava dormir, para depois me enfiar na cama. Pouco depois, Márcia juntava-se a mim e abraçava-me. Beijei-a e deixei-me adormecer nos braços dela.

Acordei ao som do chilrear dos passarinhos no exterior. Tentando decidir sobre se ficava na cama ou ia à casa de banho aliviar-me, o peso que sentia na bexiga fez-me optar pela segunda opção. Quando vim de novo para o quarto, reparei nos raios de Sol a passarem pelas frestas das portadas que cobriam as janelas; curiosa, fui até lá, abri o vidro e empurrei uma das portadas.
- Uau…
Era de facto uma paisagem lindíssima aquela que tinha à minha frente. Estávamos de frente para o vale do Guadiana, e lá em baixo as águas corriam plácidas e serenas. Do outro lado, havia um cerro cheio de árvores verdejantes que, em conjunto com os raios do Sol que já ia alto no céu, complementava aquele quadro pitoresco que tinha à minha frente. E, para ajudar ainda mais, ouviam-se os chocalhos de um rebanho de ovelhas, talvez a pastar naquele mesmo cerro. Aquele som transportou-me atrás no tempo, para vinte anos antes, para os tempos em que eu e os meus pais íamos de férias para a nossa querida Mitilene, nas ilhas gregas… A única presença humana que se intrometia no meio de todo aquele ambiente bucólico era o ocasional carro a passar pela ponte sobre o rio.
Dois braços enrolaram-se à volta da minha barriga e uma cabeça encostou-se ao meu ombro; e eu logo esfreguei a minha nela.
- Bons dias, meu amor. – cumprimentou-me Márcia, docemente.
- Bom dia, amor. Que paisagem…
- Sabia que ias gostar. Por isso quis cá vir contigo. Falaram-me bem deste sítio e da vista deste quarto, tive de vir cá ver e… trazer-te comigo, claro.
Virei-me para ela. Márcia havia vestido um roupão grosso sobre o seu corpo seminu (tal como eu, ela dormira apenas de tanga); beijei-a sem hesitar e sem parar.
- Obrigado, Márcia. Não sei que fiz para te merecer, para merecer tudo o que me dás, o que me proporcionas… – e comecei logo a sentir uma lágrima a querer surgir no canto do olho.
- Mereces tudo e muito mais. – respondeu ela, voltando a beijar-me. E ficámos ali algum tempo nos beijos, sentindo o Sol aquecer-nos pela janela.
- Bom, – declarou Márcia assim que as nossas bocas se separaram – por muito bom que seja estarmos aqui paradas, não é isto que tenho planeado para hoje. Além disso, tenho fome. Ala, moça, toca a andar! – e levantou-se.
- Está bem, está bem… – suspirei fundo e, com um último olhar à janela, ergui-me também.


1- ver "No meio de nenhures"

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