quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A história de Ana (parte 4)

(continuação...)

E fizemos. Não só naquela casa, mas também no nosso próprio lar. Normalmente, começavam por me atar à cama, amordaçando-me e ‘torturando-me’, fazendo-me cócegas, passando penas pela minha pele nua; depois, eles seguiam mais além, forçando-me a dar-lhes prazer, fosse a lamber os seus órgãos sexuais enquanto eles faziam amor, ou impregnando-me com os seus fluidos. Não sei… dependia dos nossos apetites: fizemos uma enorme quantidade de coisas, e era sempre qualquer coisa nova. Éramos uns debochados, e tínhamos orgulho disso.

 
Porém, nos primeiros meses de 2001, as coisas ficaram más. Durante um jogo da Taça de Portugal, entre o Coxos e o Barreirense, Carlos sofreu uma entrada brutal por parte dum oponente, rasgando o tendão de Aquiles, e teve de sair de campo de maca, em lágrimas. Ele foi operado inúmeras vezes, esteve em fisioterapia durante meses, e, quando chegava a casa, era capaz de se sentar numa cadeira e chorar durante minutos a fio, comigo e com a minha irmã a tentar animá-lo. Por aquela altura, Andreia, tendo ganho já uma boa maquia através do sexo, decidiu dar outra volta à sua vida e inscreveu-se numa escola para concluir o 12º ano à noite, enquanto, de dia, trabalhava numa loja de roupa feminina, e eu continuava com o meu ofício de modelo, desta feita para marcas de lingerie e similares. Ainda tínhamos brincadeiras sexuais, de vez em quando, comigo de joelhos à sua frente, mas, à medida que a dor no tornozelo de Carlos se ia agravando, essas ocasiões foram-se tornando cada vez mais raras – a não ser que o estivessem a fazer sem mim… mas, se tal aconteceu, nunca dei conta.
Foi por essa altura que eu decidi começar a decorar o meu corpo, e acabei por fazer uma tatuagem tribal no fundo das costas. Pensei que isso seria um grande passo atrás na minha emergente carreira de modelo, apenas por querer parecer diferente, mas… para ser honesta, estava-me nas tintas. É que, para ser franca, eu queria fazer algo diferente, se bem que dentro do ofício de modelo: fotografia erótica – mais especificamente, relacionada com BDSM. Queria ser retratada a fazer as coisas que eu adorava fazer privativamente… Comecei a pedir ajuda à minha irmã, primeiramente conselhos, depois para que ela me tirasse algumas fotos para o meu portfólio e enviá-lo para agências. Mas, depois de alguns meses, não obtive respostas, e acabei por abandonar esse sonho e a continuar a trabalhar apenas com lingerie.
Esse Natal foi bastante frio: Carlos – que havia finalmente desistido de lutar contra o seu tendão de Aquiles e havia anunciado o final da sua carreira como futebolista umas semanas antes, procurando antes tirar um curso de treinador – partiu com Andreia para a sua terra natal, perto de Odemira, enquanto eu fiquei em casa, sozinha: eles disseram que seria estranho eu ir com eles, especialmente sendo a família de Carlos algo conservadora… Ainda me lembro do olhar dele quando me disse aquilo, o quanto ele odiava dizê-lo e, enquanto eu me deitava naquela noite, relembrando-me do seu olhar, chorei silenciosamente durante horas. Para o Ano Novo, porém, eles regressaram, e acabámos por “fazer as pazes” durante a passagem, com mais uma noite tórrida de sexo…
A partir dessa altura, numa tentativa de levantarmos o espírito de Carlos, eu e Andreia começámos a dar largas à nossa imaginação, e a fazer algo extremamente lascivo: vestíamo-nos de igual – mas sempre roupas picantes e kinky – disfarçando-nos de forma a parecermos gémeas, e íamos à “caça”, à noite, em bares e discotecas, de uma rapariguinha com o ar mais inocente possível; metíamo-nos com ela, seduzíamo-la e levávamo-la para uma casa da qual Andreia tinha a chave, onde a usávamos sexualmente e a transformávamos no nosso brinquedo sexual. Depois, mandávamo-la embora e a noite nunca ficaria completa sem uma sessão de tortura e dominação, com a minha irmã sempre a dominar-me. E como é que estas noites ajudavam a disposição do meu pobre cunhado? Bom, nós filmávamos toda a acção, para depois lhes mostrarmos; e, surpreendentemente (ou talvez não…) esses filmes foram a ignição de muitas noites tórridas; e uma das mais intensas foi precisamente com a sua colaboração, em plena noite de Carnaval, que eu guardei durante bastante tempo como a melhor noite festiva de sempre…

Depois do jantar, fui tomar banho, porque eu queria estar na minha melhor forma para o Carnaval; e eu queria experimentar uma roupa de bruxa que eu havia comprado. Coloquei-as perto da banheira e meti-me debaixo da água quente, como normalmente. Quando fechei a água e me comecei a limpar, porém, reparei que alguém havia entrado na casa de banho e trocado o meu disfarce preto por outras roupas. Peguei-lhes e examinei-as: uma camisa branca, uma mini-saia minúscula de flanela preta e vermelha e meias curtas brancas, com um par de sapatos de salto alto ao pé. Escondidas debaixo da saia estava uma tanga branca de seda, mas não havia nenhum soutien à vista.
“Que raio terão eles em mente?”, pensei, com um sorrido na face. Lembrei-me que eles haviam estado todo o dia indecisos sobre as suas máscaras; aparentemente, já se haviam decidido. Vesti as roupas que me esperavam, descobrindo que a camisa me ficava um número ou dois mais apertada, realçando o meu peito e descobrindo o meu umbigo furado.
Abri a porta e encontrei-os aos dois à minha espera. E como eles estavam divinais… Carlos envergava um fato cinzento por cima duma camisa branca, com gravata azul e branca, e sapatos de cabedal pretos; estava perfeitamente barbeado e penteado, e tinha uma bengala de madeira na mão direita. A seu lado, a minha irmã vestia uma camisa de seda carmim – desabotoada o suficiente para se ver o seu decote e o colar de pérolas em volta do seu pescoço – uma saia preta, comprida, meias pretas e saltos; envergava óculos e o seu longo cabelo estava apanhado num french twist, tinha a quantidade certa de maquilhagem na cara, com os seus lábios, bem encarnados, a brilhar.
- Bem, bem, bem, Menina Ana, – disse Andreia, no seu tom de voz petulante – Demoraste um belo tempo, não é verdade?
- Uh… peço desculpa, Senhora. – baixei o olhar, imediatamente colocando-me no meu lugar – Posso saber onde vamos?
- Sair. – declarou Carlos – Vamos dar uma volta até um bar ou discoteca qualquer, gozar um bocadinho o Carnaval, e depois regressamos a casa.
Acenei, e pouco tempo depois havíamos saído de casa.
Estava uma noite um pouco amena, apesar de estarmos em meados de Fevereiro, e o nosso destino acabou por ser o Waikiki, um dos bares das praias da Costa da Caparica. Como seria de prever, havia lá uma festa de Carnaval, e um amigo do meu cunhado, que trabalhava no bar, havia-lhe dado convites, por isso, lá fomos nós. Assim que passámos a entrada, podíamos ver todos os tipos de pessoas, mascaradas de tudo e mais alguma coisa – e, claro, também havia, aqui e ali, pessoas sem disfarce.
Passámos um bom par de horas no bar, comigo e com a minha irmã dançando quase sempre, com Carlos sentado a uma mesa, a olhar para nós – a sua lesão não lhe dava grande espaço de manobra para grandes danças, apesar dele bem se esforçar. No entanto, enquanto eu e Andreia dançávamos no meio da pista, eu pensava se a nossa noite se iria resumir simplesmente àquilo. Honestamente, eu esperava que eles ainda tivessem algum truque na manga… Lembro-me de ter sido apalpada algumas vezes, mas nunca consegui ver por quem.
E então, por volta das 2h30, Carlos fez-nos sinal e ambas nos dirigimos na sua direcção: era hora de irmos embora. Dirigimo-nos à caixa para pagar os nossos consumos, e depois fomos para casa.
Depois de termos chegado, e quando eu me começava a dirigir para o meu quarto, uma mão agarrou-me pelo braço.
- E onde pensa a menina que vai? – gritou Andreia.
- Uhm, para a cama…
- Nem penses nisso! Vem comigo. – e ela continuou a agarrar-me pelo braço, arrastando-me até ao quarto deles, onde Carlos já se encontrava sentado num sofá.
- Nós estamos bastante preocupados contigo e com as tuas performances. – declarou ela.
- As minhas performances? Que… – comecei, mas fui interrompida ao sentir a sua mão esbofetear-me.
- Ainda não acabei de falar! – Andreia acrescentou, ainda naquele tom de voz arrogante, enquanto eu abanava a cabeça – Ultimamente, tanto eu como o Senhor Graça sentimos que não tens desempenhado o teu papel como deve ser. E é por isso que aqui estás hoje: para receberes uma lição extra em como ser uma submissa.
Enquanto eu lutava para compreender quais seriam os seus planos, vi o aceno milimétrico de Carlos na direcção da minha irmã, e ela imediatamente agarrou-me pelos pulsos e atou-mos atrás das costas; fui forçada a ajoelhar-me à frente dele, enquanto ele desapertava as calças. Entretanto, Andreia abriu a camisa e mostrou os meus seios descobertos; ela atou uma corda à volta deles, apertando o mais possível, enquanto os meus mamilos iam ficando cada vez mais rijos… a minha cabeça foi bruscamente puxada para trás e algo foi inserido nela: um anel rijo, aparentemente. Depois das suas tiras de cabedal terem sido atadas atrás da minha cabeça, esta foi empurrada para diante, na direcção do baixo-ventre de Carlos. Olhei para ele e vi ternura nos seus olhos, à medida que ele entrou na minha boca, forçando a minha língua e boca a trabalhar.
De súbito, enquanto eu lhe dava prazer, senti as mãos de Andreia a levantarem-me a saia e a arrancarem a minha tanga, deixando o meu traseiro exposto; segundos depois, gemi ao sentir algo a bater-me nas nádegas, repetidamente. Lágrimas formaram-se nos meus olhos enquanto eu gemia de dor e continuava a chupar; tinha as mãos dele na minha cabeça, a afagar-me o cabelo, enquanto ele murmurava:
- Linda menina. Estás a ir tão bem… continua assim.
O meu traseiro estava a doer-me bastante, com Andreia a não ter piedade nenhuma por mim: ela continuou a agredir as minhas nádegas com toda a força, e eu comecei a imaginar a minha pele a ficar cada vez mais vermelha. Porém, e apesar da minha agonia, senti a minha vulva cada vez mais molhada após cada vergastada de Andreia, após a cabeça do órgão de Carlos me tocar na garganta. Ele grunhiu, ainda a agarrar-me pelo cabelo, a controlar-me, a controlar a velocidade a que eu lhe dava prazer; tentei chupá-lo o mais depressa possível, pois queria sentir os seus fluidos na minha boca, na minha cara, ou onde ele quisesse – mas o meu cunhado tinha outras ideias, desejando saborear o momento, fazendo-me chupá-lo lentamente – e porque, se eu o fizesse vir-se, talvez Andreia parasse de me agredir as nádegas. Porém, apesar da sua luta, Carlos, com um gemido, acabou por ceder, e carradas de esperma invadiram a minha boca: provei os seus deliciosos fluidos, como sempre, saboreei-os, sentindo o seu doce sabor, e lentamente engolindo-os.
Então, a tareia parou. Andreia largou o seu chicote e aproximou-se da minha cara, sorrindo.
- Então, puta, aprendeste a tua lição? – perguntou.
Ainda com o esperma de Carlos na minha boca, assenti.
- Muito bem. E estou a ver que estás a gostar da tua lição até agora… – e apontou com um dedo de unha encarnadíssima para a poça que estava no chão, que havia pingado da minha rata – Mas não penses que acabámos… ainda há muito terreno a cobrir, não é assim?
- Assim é, Sra. Karabastos. – respondeu ele – Tira-o da boca.
Levantei a cabeça, obedecendo, e a minha boca ficou vazia novamente. Vi uma gota de esperma no seu órgão e baixei a cabeça para a lamber, para deixar o seu pénis imaculado. De súbito, o meu rabo foi apalpado violentamente, com aquela mão a torturar ainda mais as minhas nádegas feridas: dei um grito de dor e comecei a soluçar. Como é que Andreia conseguia fazer aquilo, amar-me e ser tão bruta comigo?
- Pronto, pronto, está tudo bem… – Carlos acariciou-me a cabeça novamente, passeando os seus dedos pelo meu cabelo, tocando-me no rosto e limpando as minhas lágrimas, enquanto eu podia ouvir os saltos de Andreia embatendo no chão.
Então, ele levantou-se, deixando-me ainda ajoelhada no chão. Tentei olhar para trás de mim, mas a minha posição era demasiado incómoda para poder vislumbrar alguma coisa. Vi um deles a aproximar-se do meu traseiro e a ajoelhar-se atrás de mim. Uma mão acariciou os meus lábios vaginais – a única parte a escapar ao massacre de antes – e os seus dedos começaram a passear-se por eles; então, senti algo ser empurrado para o meu ânus – algo frio, redondo e pequeno: uma esfera metálica, aparentemente – seguido de outra e mais outra. O meu rabo estava a sentir-se tão preenchido, o que, somado à dor das minhas nádegas, me estava a deixar bastante desconfortável… mas, se tal era verdade, porque seria que me estava a sentir tão excitada? Abri os meus olhos (havia-os fechado quando as esferas metálicas haviam começado a entrar no meu rabo) e vi Andreia sentada no sofá à minha frente, sem a saia, a mostrar as suas estrondosas pernas cobertas por nylon, abertas, revelando a sua vulva rosadinha, molhada e a pedir para ser lambida. Pelo menos, parecia pedir que a minha língua a lambesse… conseguia senti-lo. Inclinei-me para a frente, e ouvi-a a rir-se.
- Queres a minha rata, puta?
Acenei afirmativamente.
- Queres mesmo lamber a minha cona e provar os meus fluidos, é?
Assenti novamente.
- Então estás à espera do quê? Começa a mexer essa tua língua preguiçosa!
Porém, quando a minha língua estava a meros centímetros de tocar no seu sexo – com o meu nariz cheio do odor que este emanava – dois braços abraçaram-me por detrás e, gentilmente, algo entrou na minha rata.
- Podes continuar o que estavas a fazer. – Carlos sussurrou no meu ouvido, à medida que ele se moveu dentro de mim, dentro da minha vagina, sentindo prazer, dando-me prazer… ele agarrou nos meus seios, brincou com eles, apertando e acariciando os meus mamilos, beijando o meu pescoço, enquanto a minha língua penetrava a rata da sua mulher, que havia aberto a camisa e agora mexia nos seus próprios seios.
Que mistura de sensações… estava a dar prazer a Andreia, e, ao mesmo tempo, a ser servida por Carlos. Não me poderia sentir mais feliz… e então, os orgasmos começaram. Não sei dizer qual de nós foi o primeiro, mas sei que a quantidade de fluidos derramados naquela noite foi simplesmente… incrível.
Depois de horas de delicioso deboche – em que ambos acabaram a penetrar a minha rata e o meu rabo simultaneamente – sentimo-nos terrivelmente cansados. Por essa altura, eles arrastaram-me para a sua cama, ainda amarrada e amordaçada, e deitaram-me no meio deles, depois de eles se terem despido e deitado. Ambos me abraçaram, como se eu fosse um ursinho de peluche… mas não me importei. Nem mesmo por estar atada. Simplesmente esfreguei a cabeça pelo ombro mais próximo de mim, sorrindo para mim mesma, gemi de prazer e fechei os olhos.

Em Abril de 2002, fui surpreendida por um e-mail, proveniente dos Estados Unidos, de alguém que se havia interessado pelo meu portfólio – que eu já havia esquecido, sou sincera – e que estavam a entrar em contacto comigo com vista a uma potencial sessão fotográfica! Tive de o voltar a ler, tentando não desmaiar de emoção; todavia, podia perfeitamente ser um embuste, por isso tratei de saber tudo sobre a agência em questão, mas, ao que parecia, tudo batia certo. Então, fui até Miami para ter uma conversa com uma mulher de pele escura e corpo apetitoso, nos seus trintas-e-tais anos, de cabelo liso, chamada Tomyris – Tommy para os amigos. Aparentemente, a agência dela estava à procura de uma rapariga de ar simples e inocente pronta para ser amarrada e amordaçada em plena sessão fotográfica. Quando me colocaram o contrato à frente, nem hesitei e assinei quase imediatamente. Até hoje, não me arrependo de o ter feito.
Aquela sessão fez-me conhecer alguém que viria a ser muito importante para mim, nos anos seguintes. Quando cheguei ao local programado para a sessão, um dos fotógrafos fez-me lembrar o Carlos: tinha o mesmo cabelo ondulado castanho, os mesmos olhos castanhos, mas tinha quase dez centímetros de altura a mais que eu. Posso dizer que foi amor à primeira vista pelo Sr. Grant Roberts, de Washington, divorciado por iniciativa da ex-mulher. Ainda assim… ainda assim, se tivesse de escolher entre ele e o Carlos, eu ficaria sempre com o português.
A sessão foi bem porreira, toda a gente gostou de mim, trabalhei com muitas boas raparigas que me deram muitos conselhos para o futuro e… bolas, porque será que sou tão tímida ao vivo e tão aberta no que se relaciona a assuntos sexuais? Diverti-me tanto naquela sessão que quase implorei à Tommy para me contactar assim que precisassem de mim novamente. E, um mês ou dois depois, eles voltaram a chamar-me. E foi assim que a minha vida começou a centrar-se no eixo Portugal – EUA.

Não sei se ainda se lembram de um reality-show chamado ‘Big Brother’. Bom, o Carlos foi convidado a participar na primeira edição de Celebridades, no início de Setembro de 2002. Depois de alguma hesitação, e de conversas entre nós três, ele decidiu entrar no concurso. Ainda me lembro de o ver entrar na casa, sempre de canadiana na mão direita, ajudando o seu tornozelo, e com um cachecol do Coxos à volta do pescoço. Vi-o jogar o jogo pelo jogo, enquanto os seus companheiros/adversários eram eliminados, enquanto a minha irmã ia aos programas de Domingo para o apoiar.
Todavia, quando se chegou a Novembro, ele estava um caco, não conseguia aguentar mais: tinha saudades de casa, da sua vida, falando bastantes vezes em desistir; uma noite, vi-o bater uma porta com força, depois quase a chegar a vias de facto com outro competidor, para, finalmente, deitar-se na cama, a chorar… e a chamar pela Andreia. Nunca chorei tanto como nessa noite… 
Eu sei que é uma perfeita parvoíce, o delírio de uma rapariga sonsa, que nada daquilo fazia sentido, mas, naquela altura, lamentei-me por ele não ter saudades minhas. E apercebi-me que nunca iria ser feliz com ele. Com eles. Eu amava-o mais que qualquer pessoa no mundo; adorava a minha irmã, mas eu sentia que ele só pertencia a mim e a mais ninguém, queria ser eu a estar casada com ele, a ter aquela aliança no dedo, queria ser eu a ter os direitos de viver com ele. No dia a seguir, Andreia foi à casa do ‘Big Brother’ e, com a ajuda de um guindaste, ela foi levantada e pousada no pátio central (não era permitida a entrada a pessoas estranhas ao programa, se bem se lembram), enquanto Carlos era levado, vendado, por um colega; quando lhe retiraram o trapo dos olhos e eles se viram, quase o pude ver explodir de felicidade, de alegria, enquanto eles se abraçavam após mais de um mês de ausência. E aqueles cinco-dez minutos deram-lhe a força necessária para continuar em jogo. Nesse dia, tomei uma decisão. Mas decidi esperar até ao seu regresso para a levar por diante.
O último dia do concurso foi no último dia desse ano e, por essa altura, ele ainda estava na casa com mais dois competidores. Nesse dia, eu estava na audiência com Andreia, aguardando a decisão. O terceiro classificado foi anunciado e não era ele, o que nos descansou a ambas. Então teve lugar a contagem decrescente para a passagem de ano, e foi em pleno estúdio da TVI que chegámos a 2003. Mais alguns minutos depois, foi a vez de anunciarem o resultado das votações finais… e o Carlos ganhou! Eu e a minha irmã sorríamos como tolas, saltávamos nos nossos lugares, celebrando, enquanto o circuito fechado de TV o mostrava, finalmente sozinho antes de ser altura de sair da casa, encostado à ombreira de uma porta, bebendo champanhe e olhando para o infinito. Quando, finalmente, ele saiu da casa, corremos ambas na sua direcção, abraçando-o e dando-lhe os parabéns, de olhos molhados. Essa noite, nenhum de nós dormiu…
Umas semanas após a vitória de Carlos no ‘Big Brother Celebridades’, abordei-o e à minha irmã:
- Malta, vou-me embora.
Ficaram ambos a olhar para mim.
- O quê?
- Pois… vou-me. Não posso ficar aqui mais tempo.
- Mas… mas porquê, Ana? – perguntou Andreia.
- Fizemos alguma coisa que te chateasse? – acrescentou Carlos.
Suspirei. Isto não iria ser fácil.
- Não, é apenas… Gaita, eu amo-vos aos dois. E… a verdade é que eu amo-te mais que tudo, – disse, olhando para ele – como nunca pensei amar alguém… ainda mais que o que eu te amo a ti. – olhava agora para Andreia – Mas…  mas apesar de aquilo que fazermos ser muito bom (e isto é um eufemismo), eu quero mais que isso… quero estar ligado a ti.
- Querida, mas estás… – Carlos começou.
- Quero ter-te como marido, Carlos… e eu não posso ter isso. Eu sei, o que nós temos é bastante forte, também… mas eu não chego a conhecer a tua família, a ter crianças tuas, ou nada do género…
Não consegui evitar um soluço.
- … por isso é que tenho de seguir a minha vida. Ter uma família minha. E a minha mente está decidida.
Entreolharam-se, depois olharam para mim.
- Querida, há algo que eu possa dizer que… – começou a minha irmã, mas não a deixei acabar.
- Não.
Vi as suas caras tristes, senti o quanto os estava a magoar, e estive quase, quase, a voltar atrás com a minha decisão. Mas não podia. Mesmo sendo o meu amor por eles enorme, eu tinha de viver a minha vida, seguir o meu caminho. E eu penso que eles também o entenderam.
- Para onde vais, linda? – perguntou Carlos.
- Talvez para a América… gostava de atingir o meu sonho de me tornar uma modelo erótica conhecida.
Eles entreolharam-se mais uma vez.
- Tens a certeza de que…
- Sim.
Dito isto, deixei-os e fui para o meu quarto. Fechei a porta, deitei-me na cama e, incapaz de continuar a resistir mais, desatei a chorar.
O momento da despedida foi uma das alturas mais agonizantes da minha vida. Eles levaram-me ao aeroporto, fiz o check-in, e ali ficámos, à espera… esperando que o tempo se atrasasse, que a partida nunca chegasse.
Sim, eu estou consciente que a decisão de partir, de nos separarmos, foi minha, mas isso não fazia que a despedida fosse menos dolorosa. Por todos os motivos que eu já disse – eles eram a minha vida. Mas não me estava a sentir realizada. E não sabia se o iria ser, mas queria tentar.
Falámos de coisas aleatórias, passando o tempo, tentando evitar todos os pensamentos sobre a partida; então, lá abriram as portas de embarque para o meu voo. Olhei para eles e ambos tinham lágrimas nos olhos, e eu apenas podia imaginar o meu aspecto, mas não seria muito diferente. Beijei-os a ambos, na boca, e abalei com a promessa de lhes enviar notícias, o mais cedo possível. Se eu soubesse o quanto estava errada na minha decisão…

(continua...)

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