quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Punição com as próprias ferramentas

 
Abanei a cabeça. As pestanas estavam a ficar cada vez mais pesadas. Já passava bastante das 23h mas queria ver se conseguia acabar aquele chicote antes de me ir deitar. Reprimindo mais um bocejo, acabei por ir buscar mais uma tira de cabedal.
Para todos aqueles que não saibam, construo utensílios para práticas BDSM. Numa altura em que não era fácil arranjar-se utensílios para as práticas de que gostava, comecei eu mesma a fazê-los. E o que é certo é que, melhor ou pior, comecei a ser conhecida pelas coisas que fazia, pelas chibatas, chicotes, paddles, cordas, jaulas e o mais. Com o tempo, passei a dedicar-me à revenda de artigos de BDSM, não só daquilo que fazia. Vibradores, dildos, mordaças, algemas, correntes, cintos de castidade, vestidos provocantes… todavia, apesar disso, continuava a fazer as minhas coisas, a criar artigos mais fora do vulgar – a última ideia que eu havia acabado havia sido uma paddle a imitar a sola de uma bota. E recebia encomendas de outras pessoas para qualquer espécie de artigos. Por isso é que eu ainda estava a pé àquela hora: tinha recebido uma encomenda para um bullwhip personalizado e eu estava um bocadinho atrasada.

 
Pensei se o Luís, o meu companheiro de aventuras, já estaria a dormir. Ele estivera a ajudar-me até uma meia-hora antes, mas já tivera de recolher pois estava à rasca dos olhos — para além de já se ter levantado cedo naquela manhã. Começava a pensar em juntar-me a ele na cama, pois nem pensar que eu conseguiria acabar aquilo naquele dia…
De súbito, senti uma mão enluvada a agarrar-me num dos pulsos e a torcer-mo atrás das costas. Outra mão agarrou-me no outro pulso e fez o mesmo, sendo empurrada em direcção à cruz de Santo André que estava colocada numa das paredes do armazém (ou, por outra, da cave da nossa casa); num ápice, os meus pulsos foram presos às correias que pendiam das argolas. Sem perderem tempo, os invasores rasgaram-me as roupas, deixando-me completamente nua.
- Parem quietos, filhos da puta! O que querem de mim?!
Ouvi duas vozes, mas não consegui perceber o que diziam – falavam uma língua estranha.
- Tirem-me daqui, caralho! – gritei.
Tentei ver quem estava atrás de mim; olhei para trás e vi duas figuras a vestirem batinas: à primeira vista, pareciam frades. Era impossível ver mais a respeito deles devido a terem os capuzes sobre a cara. Vi um deles a passear pelos apetrechos que tinha ali – muitos deles resultado do nosso trabalho de anos – pegando em alguns deles e pesando-os, aparentemente avaliando-os. Então ele aproximou-se de mim com uma paddle de madeira nas mãos, com a parte mais larga em forma de coração e dois buracos com a mesma forma, ao mesmo tempo que ia recitando qualquer coisa naquele idioma imperceptível para mim. No momento seguinte, a paddle bateu-me nas nádegas com toda a força. Berrei, sentindo a mordidela daquele utensílio contra a carne do meu traseiro.
- Parem!! O que estão a fazer?!
Voltei a ser atingida pela paddle e fui-o durante algum tempo, sempre no máximo da força. Eles não estavam mesmo com ideias de serem meigos comigo… 
Quando as pancadas pararam, o meu traseiro doía-me como tudo; enquanto os ouvia dialogar entre si novamente, tentei ver se me conseguia libertar da cruz, todavia sem sucesso – como eu calculava. Logo a seguir, fui agredida nas costas por um flogger – consegui olhar para trás e ver que um daqueles pseudo-frades tinha nas mãos um dos que eu havia deixado em cima da bancada de trabalho.
- Mas isto não pára, caralho?! O que é que vocês querem, afinal?!
Se ele me ouviu, ignorou-me: continuou a vergastar-me as costas ao mesmo ritmo. O seu companheiro olhava para a bancada e para os utensílios que estavam por ali, como que tentando decidir-se sobre o que escolher para usar em mim. 
Estranhamente o outro não perdeu muito tempo com o flogger: a sua atenção foi desviada para uma embalagem de molas de madeira que estava em cima da bancada, perto de umas paddles que o Luís estivera a tentar acabar antes de jantar. Ele agarrou na embalagem e abriu-a, espalhando o seu conteúdo pela bancada.
- Escuta lá, oh filho da puta, que pensas tu que vais fazer? – gritei-lhe.
Fui surpreendida quando o outro me colocou algo na boca para me calar – só mais tarde reconheci aquilo como sendo um penis gag de um lote que tinhamos para revenda. Fulminei o que me havia amordaçado com o olhar, mas foi nessa altura que o outro começou a colocar-me molas nas costas: começou nas omoplatas e foi descendo pelo meu corpo, em duas filas quase simétricas, parando quando chegou às minhas nádegas. Houve uma breve pausa; logo depois, todas as molas me foram arrancadas ao mesmo tempo. Arregalei os olhos e inclinei a cabeça para trás enquanto soltava um grito abafado pela gag: aquilo havia-se assemelhado a arrancarem-me um bocado da pele a sangue frio! Entretanto ouvi o som de algo metálico a ser manejado; pelo canto do olho pude ver que ele tinha nas mãos um plug, a mais recente – e temível – adição ao nosso stock de objectos do género: um plug pesado de metal que dava para expandir e que dava para trancar com a abertura desejada através de cadeado. Engoli em seco quando me apercebi que eles faziam ideias de o colocar em mim! Debati-me assim que o vi a aproximar-se de mim com aquela coisa na mão, ensopada em vaselina; só que o outro agarrou-me fortemente pela cintura, não podendo eu impedir o primeiro de me colocar o plug. A sensação de entrada foi algo desagradável – mas nada comparado quando ele se começou a abrir… misericordiosamente não o abriram muito: apenas o suficiente para não sair por si e para me incomodar e magoar…
Então houve mais uma troca de palavras entre os dois; depois, as minhas pernas foram soltas da cruz. Apesar da dor que sentia no meu ânus, comecei a preparar-me para o momento em que os meus pulsos fossem libertos, pois assim que isso acontecesse eu iria desatar à cotovelada a tudo o que mexesse. Todavia, quando tive as mãos livres, fui surpreendida pela força titânica que ambos dispunham, completamente prevenindo qualquer movimento da minha parte: por mais que me debatesse, não consegui, sequer, libertar um único pulso. Assim, voltei a ser presa na cruz, mas desta vez virada para a frente.
Quando voltei a estar presa, um deles foi buscar uma armação metálica que estivera guardada numa caixa até então; reconheci logo o que era enquanto me iam colocando aquilo à volta da cintura: a "Torre da Dor", um utensílio para torturar os seios, que na parte frontal tinha duas travessas, entre as quais ficariam os peitos da vítima; a superior era então apertada até ao que ela aguentasse. Assim que as minhas mamas começaram a ser apertadas mais que o devido, debati-me mais uma vez, tentando libertar-me na esperança de eles, desta vez, terem apertado mal as correias. Não se verificou, infelizmente. Fechei os olhos e engoli em seco, tentando suportar a dor provocada pela "Torre".
Senti algo ser-me colocado nos mamilos e seios: abri os olhos (fechara-os assim que os meus seios foram apertados) e vi que um dos meus captores voltara às molas, enchendo-me os peitos esmagados e a barriga com elas. Daquela vez, todavia, não havia intenção de as retirar do meu corpo. Para além da dor provocada por tudo o que aqueles dois me haviam feito, sentia-me cansada e quase desejei que eles passassem ao "grand finale" – qualquer que ele fosse, apesar de palpitar que não iria escapar sem ser violada – para que tudo aquilo acabasse de vez e eu pudesse descansar…
Eles voltaram a dialogar entre si naquela algaraviada que ninguém percebia. Depois um deles aproximou-se de mim e começou a discursar qualquer coisa, gesticulando com os braços para acentuar as palavras: dir-se-ia que me estava a admoestar… mas, sem eu perceber rigorosamente nada do que ele dizia, tornava-se difícil ter a certeza.
Quando finalmente ele acabou a sua enigmática retórica, para meu espanto, virou costas e subiu os degraus das escadas para se ir embora, com o seu comparsa a seguir-lhe os passos. Comecei a gritar e a gemer o mais alto que a mordaça me permitiu, tentanto com que eles – ou o Luís, apesar de ele estar no seu sétimo sono, imaginava eu – me ouvissem e me tirassem dali. Nada feito, porém. Engoli em seco e preparei-me para esperar até de manhã, quando Luís regressasse ao armazém.

[tema da história sugerido por F0XY, da BDSM4Utopia]

2 comentários: