continuação...
Olhei para os monitores que tinha
à minha frente e sorri. Tudo corria consoante tinha planeado: tinha os quatro
prisioneiros lado a lado (apesar de não se conseguirem ver) e a serem
penetrados ao ritmo das pulsações uns dos outros. Vi que Paulo e Belinha
estavam acelerados: imaginei que a minha patroa estivesse irritada por se ver
metida numa situação em que estava dependente do marido e, por isso, a sua
pulsação estivesse acelerada. Quanto ao outro par, Helena e a minha sósia/irmã
Ana, estavam mais lentas: o facto de não haver uma ligação afectiva tão forte
talvez resultasse numa velocidade tão acelerada. Sabia que não podia esperar
muito tempo, pois algum deles podia carregar no botão e ver que aquilo da
“electrocussão fatal” era tanga: foquei a câmara de Paulo e, assim que o vi fazer
força com o braço esquerdo, carreguei num botão da consola que tinha a frente e
que imediatamente desapertou a correia que lhe prendia o pulso. Reparei imediatamente
que a sua pulsação aumentou (como seria de esperar, quando notas que te
conseguiste libertar de uma prisão) e que, por conseguinte, os dildos de
Belinha aceleraram imenso. Mas Paulo já estava a libertar o outro pulso, a
arrancar os fios que tinha presos ao corpo e que o podiam “matar”, finalmente
arrastando-se para longe do alcance dos dildos que continuavam em movimento. De
súbito, vi que se acendeu uma luz na consola: Belinha havia carregado no botão
de electrocussão… felizmente Paulo já se havia libertado.
Eles estavam deitado em cima de
quatro estrados, com restrições que não lhes permitissem que se conseguissem
ver uns aos outros. Paulo levantou-se e viu que Belinha estava ao seu lado;
naturalmente o seu primeiro instinto foi correr para ela e libertá-la das suas
amarras. Sorri pelo instinto protector dele: talvez não estivesse tudo perdido…
De súbito, senti que alguém me estava a mexer no que quer que fosse que me estava a prender os pulsos, libertando-mos e tirando-me para fora do alcance da fucking machine, como o nosso captor lhe tinha chamado… Ergui a cabeça e pude ver que se tratava de Paulo, que ele de qualquer maneira se tinha conseguido libertar e não havia hesitado em libertar-me… felizmente ele havia-se libertado antes de eu não ter aguentado mais e ter carregado no botão, caso contrário ele não estaria ali para me libertar! Vi que ele estava agora ocupado a tentar libertar Helena e Andreia e notei que Andreia tinha uma coleira especial à volta do pescoço, de metal, com um aparelho qualquer na parte da frente. Apalpei o meu pescoço e senti uma coleira semelhante: Paulo e Helena não o tinham. Escusado será dizer que estávamos os quatro nus.
- Ena, ena,
ena, os meninos conseguiram soltar-se! Muito bem! Se ao menos o jogo tivesse
acabado… mas receio que apenas tenha começado.
Olhámos em
volta, todos a tentar ver o que nos rodeava; para além daquela espécie de
estrados onde havíamos estado presos e dos ecrãs onde podíamos ver o nosso
parceiro, nada mais se via, apenas câmaras de filmar. Nem sequer se via o
vislumbre de uma porta. Subitamente, ouviu-se um estalido e, no meio de uma
parede que parecia sólida havia aparecido uma porta como que por magia.
- Por este
lado está a vossa salvação… ou a vossa perdição! Obviamente se ficarem quietos
no mesmo sítio, o jogo termina… e as vidas acabam. As vossas.
Sem
hesitar, Paulo pegou-me na mão e guiou-me para a porta aberta, enquanto Andreia
fazia o mesmo à pobre Helena, que permanecia cega. Assim que passámos a porta,
ela fechou-se atrás de nós. Estávamos agora num corredor fracamente iluminado
por lâmpadas de fraca luminosidade. Então, as coleiras que eu e Andreia tínhamos
ao pescoço soltaram um apito prolongado.
- A partir
do momento que a porta se fechou, iniciou-se uma contagem decrescente. –
continuou a mesma voz – Vocês têm trinta minutos… bem, agora menos que isso…
para encontrarem a saída do meu labirinto. Se, quando a contagem decrescente
terminar, ainda não tiverem dado com a saída, há duas meninas muito marotas que
vão ser estranguladas e morrer com falta de ar. Mas, se já estiverem no
exterior quando acabar esse prazo, oh, alegria, a vossa coleira soltar-se-á
como que por magia. Portanto… neste momento têm menos de 29 minutos para salvarem
as vossas caras-metades. Boa sorte! – e terminou com uma gargalhada estridente,
que ecoou pelos corredores.
Paulo
voltou a pegar-me na mão.
- Por aqui,
vamos! Não temos tempo a perder! – declarou ele, mas eu fiquei quieta.
- Calma aí,
filho da puta. Agradeço-te teres-me salvo há bocado, mas não preciso da tua
ajuda.
- Belinha,
se achas que vou ficar quieto enquanto um maluco qualquer te mata, estás
enganada. Vamos embora, por favor! O tempo é pouco e não sabemos o que nos
espera!
- Ele tem
razão, Belinha. Temos de nos despachar. – continuou Andreia, sempre agarrando
Helena que, coitada, tentava enxergar alguma coisa olhando para todos os lados.
- OK, OK.
Queres liderar, então? – aquiesci, olhando para o meu marido.
Ele tomou a
liderança do nosso grupo e eu fui atrás, tentando ajudar Andreia com Helena.
O caminho
era estreito, tinha poucas lâmpadas, muito espaçadas entre si, e de fraca
luminosidade. O solo era muito irregular, escavado na rocha, e por diversas
vezes senti as arestas vivas a cortarem-me os pés. Paulo ia à frente, tentando
encontrar a saída daquele emaranhado de corredores e túneis; por diversas vezes
ele quisera agarrar-me na mão para me fazer andar mais depressa, mas eu
sacudia-o sempre. Não me sentia preparada para o sentir agarrar-me novamente…
apesar de eu estar livre e com possibilidades a sobreviver àquela estúpida
aventura graças a ele. Será que eu estava preparada para o aceitar novamente se
eu deixasse de lhe cobrar a sua traição? OK, eu também me havia enrolado com
homens quando fora a despedida de solteira de Helena1,
mas era diferente, porque… porque…
De súbito
parámos. À nossa frente estava uma parede, mas havia saídas para a direita e
para a esquerda. Ambas idênticas, ambas sem qualquer indicação sobre o que
estaria mais adiante.
- E agora?
– interrogou Andreia, sempre a abraçar Helena. Era horroroso olhar para a
hermafrodita com os seus olhos brancos como leite…
- Não tenho
ideia nenhuma. – comentou Paulo – Mas não queria que nos dividíssemos…
Foi
interrompido por uma voz, ensurdecedora, que parecia vir de todos os lados e de
nenhum lado ao mesmo tempo:
- Devo-vos
lembrar que têm, neste momento, quatro minutos para salvarem as vossas
caras-metade. E para vos dar mais um incentivo para se porem a mexer, os túneis
vão ser inundados de gás metano, que, como vocês bem sabem, não vos faz muito
bem à saúde… tic tac, tic tac!
Entreolhámo-nos
aterrorizados: menos de quatro minutos para encontrarmos a saída, e ainda por
cima gás metano a encher os túneis!
- Temos de
escolher um lado! – berrou Paulo, entrelaçando a mão dele na minha… e não a
retirei.
- Mas qual?
Fazemos um-dó-li-tá? – comentei, olhando para cada um dos túneis, à espera que,
por magia, algo se acendesse e assinalasse o caminho certo.
- Ou então
dividimo-nos… – sugeriu Andreia, com pouca vontade.
- Não nos
devíamos dividir. – afirmei, peremptoriamente.
- Assim
alguém se safa, e se encontrarem a saída, gritam para os outros, pode ser que
dê tempo! – comentou Paulo, também a olhar para os túneis.
- É um tiro
no escuro… – gemeu Helena.
- Pode ser.
Mas é a nossa única chance. – e, de forma resoluta, Paulo avançou pela o túnel
da esquerda, sempre a agarrar-me na mão; quando olhei para trás, Andreia e
Helena estavam a virar-se para tomarem o outro túnel.
Estávamos
numa derivação ligeiramente mais estreita que o corredor de onde havíamos
saído, e era frequente eu ou Paulo estarmo-nos sempre a magoar nas arestas
vivas que estavam nas paredes, pois a abertura mal dava para nós passarmos – e
ainda por cima em passo acelerado, visto o tempo que faltava até a coleira que
eu tinha ao pescoço me matar provavelmente estar mesmo quase no limite…
Subitamente deparámo-nos com uma porta de correr, metálica e de aspecto pesado
cheia de ferrugem, com uma pega no meio.
- Bravo,
casal número um, encontraram a saída! – ouviu-se novamente a voz – Agora… será
que conseguirão escapar-se antes do meu gás metano vos apanhar? Será que Paulo
conseguirá abrir a porta antes da minha coleira matar a sua cara-metade? Ainda
bem que tenho pipocas para assistir a estes últimos segundos!
Sem dizer
palavra, Paulo atirou-se à porta de forma desenfreada, procurando uma maneira
de a conseguir abrir, sem grande sucesso.
- Paulo,
deixa, não te importes… – declarei, cansada e atirando-me para o chão –
Obviamente que o filho da puta que orquestrou tudo isto não nos vai abrir a
porta…
- O caralho
é que vou! – rugiu o meu marido, sempre a batalhar com a porta – Se pensas que
vou ficar a assistir enquanto morres electrocutada, estás muitíssimo enganada!
Então,
deslizando-a para o lado, ela pareceu avançar para dentro da parede alguns
centímetros, voltando ao lugar inicial logo a seguir. Com os olhos marejados de
lágrimas, agarrei-o pelo braço.
- Eu… eu
estou conformada. Sei que vou morrer hoje, agradeço-te o esforço… mas depois
disto tudo, não vamos ter salvação, o tipo que engendrou isto não…
- Cala-te e
ajuda-me! – interrompeu-me Paulo com impaciência – Se puxarmos os dois para
este lado, devemos conseguir!
Paulo
continuou os seus esforços e, realmente, parecia que a porta se estava a abrir
milimetricamente! Mesmo com pouca energia, agarrei-me à pega, ao mesmo local
onde o meu marido fazia força enquanto gritava por Andreia e por Helena, para
que viessem ter connosco, que a saída era por ali. Assim que a abertura se
tornou larga o suficiente, Paulo agarrou-me e praticamente atirou-me pelo
buraco, seguindo-se ele depois.
O exterior
da porta estava fracamente iluminado por uma luz esbranquiçada; demorei algum
tempo para perceber que aquela “luz” era a luz da Lua. Tínhamos conseguido
escapar daquele maldito complexo! Todavia, ainda havia um problema, pois apesar
do que nos havia sido dito, eu duvidava que os poderes eléctricos daquela
coleira desaparecessem ao passarmos pela porta de saída… mas nem foi preciso
dizer nada, uma vez que Paulo imediatamente se agarrou à coleira que eu tinha
ao pescoço; com meia-dúzia de puxões conseguiu retirar-ma e atirá-la ao chão, momento
em que uma onda eléctrica a percorreu. Tinha sido mesmo na altura certa! Olhei
para Paulo, que havia caído redondo no chão, extenuado pelos esforços que havia
feito para me salvar – a mim, à sua mulher, à gaja que o repudiou por causa de
um caso e que estava seriamente a pensar deixá-lo para sempre. OK, ele havia-me
traído, mas eu também fizera o mesmo, especialmente desde a cilada que Andreia
lhe armara… Os meus olhos humedeceram-se de lágrimas.
- Paulo…
obrigado. – murmurei, tentando controlar-me. Muito obrigado por tudo o que
fizeste por mim lá dentro. Não tinhas que o fazer, especialmente da maneira que
te tenho tratado desde… bom, desde a
altura que tu sabes.
- Farias o
mesmo por mim, Isabela, eu sei disso. – declarou ele, agarrando-me nas mãos e
fazendo-me encará-lo – Porque eu sei que tu me amas. Quase tanto como eu te
amo. Por isso, claro que faria tudo para te salvar. Eu morreria por ti,
querida.
E
beijámo-nos. Não sei quem tomou a iniciativa e, muito sinceramente, nem
interessa: o que interessa é que nos beijámos. E que senti que o muro que
erguera entre mim e ele se havia esboroado como um castelo de areia quando uma
onda o atinge. Um muro de ódio destruído por uma onda de amor. E eu chorei.
Chorei por aquele momento, que nunca dantes julgava poder voltar a sentir, por sentir
o mesmo amor que sentia por Paulo e que me havia levado a casar com ele e a ter
o Duarte com ele…
Fomos
arrebatados do nosso momento idílico pelas vozes de Andreia e de Helena.
Andreia arrastava Helena, que ia aos encontrões contra a parede nua e cheia de
rugas e vincos…
- Só mais
uns metros, querida! – gritou Andreia.
Porém,
quando nada o fazia prever, a porte metálica fechou-se, deixando as duas
fechadas lá dentro.
- Não! –
gritei, horrorizada, tentando novamente abrir a porta; mas, mesmo com ajuda de
Paulo, daquela vez foi impossível mover aquela barreira ferrugenta um milímetro
que fosse. Do outro lado, ouvíamos gritos de dor. Bati com os punhos na porta,
chorando mas desta vez de raiva: não era justo o que aquele filho da puta havia
feito, não era justo que Andreia e Helena morressem assim, ali, a meros
centímetros de mim, sem que eu pudesse fazer nada…
Paulo
abraçou-me com força, procurando mitigar a minha dor, a minha perda. Andreia
era mais que uma simples empregada dos meus ateliers de cabeleireiro: era uma
amiga, uma colega de aventuras; e perdê-la daquela maneira, por um motivo tão
fútil, por um simples desígnio de uma mente maligna e perversa que as matara
apenas porque sim…
Chorei
durante minutos. De súbito, a porta metálica e ferrugenta deslizou para o lado,
lentamente, até se abrir por completo. Olhando para a abertura onde estivéramos
havia poucos instantes antes e onde Andreia e Helena haviam morrido… porém,
quando olhámos para o túnel, vimos que as duas estavam em pé, vivas e a mexer! Saíram
do túnel, com um enorme ar de confusão no rosto, a mesma confusão que se
deveria reflectir na minha cara e na de Paulo. Abraçamo-nos todos, deixando as
lágrimas correrem livremente, e foi Helena a proferir a pergunta que, naquele
momento, ocupava a cabeça de todos:
- O que
raio se passou aqui?
Só que
ninguém, nenhum de nós, podia responder, uma vez que todos sabíamos o mesmo, ou
seja nada. Acabámos por nos ir embora dali, tentando encontrar o caminho de
volta para casa… e de maneira que ninguém nos visse nus.
Ao ver os quatro irem-se embora,
sorri, satisfeita. O meu plano funcionara perfeitamente: Belinha e Paulo haviam
voltado a reencontrar-se e a unir-se, vendo-os caminhar de mão dada um com o
outro. Desliguei a energia daquele espaço, pertença de um amigo que se dedicava
a explorar “escape rooms” e saí da sala de controlo, para me encontrar com Ana:
ainda tinha de ver com que feridas e marcas havia ela ficado no corpo e
procurar reproduzi-los em mim mesma, para que Belinha não desconfiasse de nada…
Nos dias seguintes, Belinha esteve
de folga e disse-me para tirar uns dias para ambas recuperarmos daquela
aventura. Depois dessa pausa, voltámos as duas ao trabalho no atelier de
cabeleireiros que Belinha tinha no RioSul. Vi-a ainda com alguns pensos e
nódoas negras, mas nunca falou com ninguém a respeito do que lhe acontecera,
dando respostas evasivas aos mais curiosos. Só comigo, que também havia
“passado” pelo mesmo, é que se abriu mais.
- Já conseguiste perceber o que
raio se passou naquela noite? – perguntou-me ela, em voz baixa, quando lhe
comecei a arranjar as unhas e a devolvê-las à sua habitual irreverência.
- Estou na mesma… depois de nós…
coiso, fui à casa de banho, tocaram à porta e depois… é tudo uma branca até dar
por mim presa naquela prisão.
- E como raio é que vocês
sobreviveram?
- Sei lá eu! Quando a porta se
fechou, ficámos à espera, eu e Helena, do choque eléctrico que nos matasse as
duas, abraçadas e unidas à espera do pior, mas nunca chegou a ocorrer nada…
depois a porta abriu-se e nós ficámos a olhar para vocês feitas parvas. Qual a
cor que queres? – perguntei
mostrando-lhe os vernizes que tinha ali ao pé.
- Hmm… Rosa com brilhantes pretos.
– depois, uma pausa – Sabes… quando tudo começou, ainda pensei que isto tudo
fosse ideia tua.
- Minha?! – senti-me gelar –
Porquê?!
- Oh… tu sabes… tu também és assim
meio maluca em arranjar coisas ligadas a sexo… mas depois vi-te a meu lado e
percebi que a coisa era a sério.
“Uff!”
- Pois… desculpa, mas acho que não
tenho imaginação para tanto.
- Eu sei lá… já vi tanta coisa tua
que às vezes até tenho dúvidas. – e Belinha soltou uma gargalhada, enquanto eu
procurava esconder o meu desconforto enquanto lhe tirava as unhas de gel
antigas.
- Então e… tu e o Paulo? –
perguntei de chofre.
- Olha, sabes? Acho que vou
dar-lhe uma oportunidade de começarmos novamente. Quem se arriscou como ele
para me salvar… principalmente quando eu já tinha desistido dele… acho que merece, sabes?
- Claro que sei! Raios, tu e ele
são a Barbie e o Ken! Só têm é de estar juntos e de fazer inveja a nós, comuns
mortais, por ficarem tão bem juntos! Nem nos tempos em que eu estava com o
Carlos fazia um par tão perfeito como tu e o Paulo. Vocês foram feitos para
ficar juntos e o resto que se foda.
- Mas não foste tu que até me aconselhaste
a…
- Shhhhh, passado é passado. E ele
mostrou que te merece. O resto que se foda. – repeti.
Ela encarou-me, depois assentou e
reclinou-se na cadeira, enquanto eu suspirava de alívio.
Tudo aquilo tinha valido a pena. A
“Barbie e o Ken” eram um casal novamente.
1- ver “Orgia de despedida”
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