quinta-feira, 16 de julho de 2015

O salvamento

 (história anterior)

Desliguei o telemóvel e entrei no carro. A morada que me haviam dado era relativamente perto da nossa casa, mas de carro a viagem fazia-se em menos tempo – para além de não ter de ir a coxear com dores todo o caminho.
Menos de cinco minutos depois, parei o carro no exterior de uma pequena vivenda – se compararmos com o tamanho normal das casas da Verdizela. Saí da minha viatura, puxei um molho de chaves do bolso e fui coxeando até ao portão de entrada, sempre agarrado à minha bengala; abri-o e, mais uns passos depois, cheguei à porta principal daquela casa. Escolhi outra chave, meti-a naquela fechadura e abri mais aquela barreira.


Não perdi tempo: sabia que a casa estava vazia – vazia à excepção de uma pessoa – por isso dirigi-me ao escritório da casa, ao fundo do corredor principal, à esquerda. Experimentei a maçaneta da porta, vi que não estava fechada à chave e rodei-a. Entrei naquele espaço e quedei-me a olhar para a figura que ali estava, forçosamente sentada em cima de uma qualquer estrutura metálica.
- Meu. Deus. – murmurei – O que elas te fizeram, Ana…
 Ao ouvir a minha voz, ela levantou a cabeça e olhou para mim. Ela parecia estar metida dentro de um colete-de-forças de látex branco em que as pontas das mangas estavam presas àquela estrutura, forçando-a a ter os braços cruzados à frente, tinha umas meias de látex preto pelo meio da perna com tiras de cabedal que a forçavam a ter as pernas abertas, umas ballet boots, uma coleira de postura à volta do pescoço e uns ferros na boca, forçando-a a tê-la sempre aberta. O que me impressionou mais, todavia, foi o seu olhar: branco, leitoso, vazio. O que lhe tinha acontecido aos olhos?!
Aproximei-me lentamente de Ana, apenas então reparando no estado deplorável em que ela tinha o cabelo e cara. Para além da baba que lhe escorrera da boca por vias daquela mordaça, o seu cabelo estava impregnado de saliva, sémen e sei lá o quê mais. A minha mulher tentou falar, não se percebendo nada do que disse.
Agarrei-lhe nas tiras de cabedal que mantinham os ferros da boca em posição e desapertei-as. Ana pareceu ficar aliviada, exercitando os maxilares durante algum tempo.
- Meu amor, ainda bem que aqui estás… – sussurrou Ana, assim que acabou os seus exercícios – Preciso tanto de ti…
- Querida… o que te fizeram elas? Magoaram-te muito? Como estás?
Pareceu-me ver um ligeiro sorriso nos seus lábios.
- A minha relação com elas está reatada, amor. Faço parte da família novamente… deixei de ser leprosa.
- Leprosa?! – sobressaltei-me – Ana, que te fizeram elas?!
- O que foi necessário para voltar a ser considerada uma Karabastos.
Ajoelhei-me à beira da minha mulher e acariciei-lhe o cabelo, indiferente às secreções corporais que fui sentindo na sua cabeça.
- Amor… – continuou Ana – Não estou à espera que compreendas. A nossa família é muito diferente de uma família normal. Temos o nosso próprio código de honra… e eu, como membro desta família, falhei nesse código. Por amor ao homem com quem estou, ao homem que faz parte da minha vida e com eu quero viver até ao fim da minha vida, quebrei as nossas regras… mesmo que forçada a isso. Por isso fui colocada à margem e castigada como vês, abusada, humilhada e violada. Mas era necessário para regressarmos à normalidade, à relação que tínhamos antes de toda esta confusão…
Pareceu-me que ela estava perto de começar a chorar. Sem uma palavra, abracei-a fortemente e deixei-a encostar a cabeça no meu ombro, onde ela começou num pranto silencioso.
Quando ela se acalmou, ergueu o rosto e olhou para mim (ou olhou tão bem como aqueles olhos cegos o permitiam).
- Promete-me que não vais odiar as minhas irmãs ou sentir qualquer espécie de ressentimento por ela, minha vida… que vais voltar a relacionar-te com elas como dantes. Prometes?
Aquele “relacionar como dantes” deixou-me algo de sobreaviso. Ana queria que eu e ela nos voltássemos a envolver intimamente com as minhas cunhadas? Era essa uma das suas prioridades?
Bom, por ela faço tudo.
- Prometo.
Ana pareceu sorrir e tentou beijar-me, ficando a uns centímetros da minha boca. Sorri e aproximei-me dela, de forma a trocarmos um longo e apaixonado beijo.
O encanto quebrou-se quando as nossas bocas se separaram e ela comentou:
- Amor… preciso muito de ti… – aquele tom de voz era diferente da forma como me falara até então: parecia a voz de uma sereia…
- Mas eu estou aqui…
- Preciso de ti… em mim…
Abanei a cabeça.
- Sério? Depois do que as tuas manas te fizeram, depois de teres sido violada, queres que eu faça amor contigo? Mas tu existes?
- Eu… eu preciso do teu néctar em mim, preciso de sentir os teus carinhos, preciso de sentir o teu amor… eu preciso de atingir o clímax, já não sei o que é isso, estou há tanto tempo em carência… acaba com o meu jejum, meu Adónis…
Sentia-me aquecer por dentro: tal como uma sereia, ela sabia fazer o seu chamamento por forma a seduzir-me – mesmo com ela imunda, cega e manietada. E o que é certo é que ela era eficaz.
- Tu… tu é absolutamente louca, Ana Isabel… – murmurei, tentando controlar-me.
- Negaste-me o prazer supremo durante mais de um mês, estou sedenta… desesperada… meu Príncipe, não aguento mais, eu… eu quero-te a ti, quero que me sacies a fome, quero que rebentes com o pouco que ainda sou…
Era inútil resistir: era como se Ana me tivesse enfeitiçado com o seu chamamento e eu não conseguisse contrariar esse encantamento. Despi-me, ficando nu à sua frente, e rocei-lhe a minha pila na sua face. Assim que ela percebeu o que era, pareceu ronronar.
- Por favor não pares… amordaça-me, usa-me e viola-me… esporra-me a ratinha, magoa-me, fecunda-me, recheia-me como se não houvesse amanhã… por favor… volta a amordaçar-me e mete-me o teu bombom na boca… por favor…
- Hmm? Tens a certeza?
Ela abriu a boca, ficando com ela aberta, sem se mexer, expectante. Suspirei e agarrei na mordaça que ela tinha na boca quando a vi e coloquei-lha, ficando a minha mulher de boca aberta… e aquele olhar que tanto me metia impressão.
Raios.
Andei à procura de algo onde me pudesse colocar em cima de forma a conseguir ter o meu baixo-ventre ao nível da sua boca, acabando por encontrar um escadote ali ao pé, que acabei por trazer para a beira da estrutura onde Ana havia sido presa. Depois, agarrei-lhe no cabelo, ignorando a camada de fluidos que senti, e coloquei-lhe a pila na boca. Imediatamente Ana começou a gemer e a suspirar, lambendo-me a ponta com a língua ao mesmo tempo que se ia babando. Fi-la sair e Ana automaticamente estendeu a língua para fora, o que me fez voltar a passar-lhe o meu órgão por ela. Vi-a fechar os olhos, com lágrimas a começarem a escorrer-lhe à cara abaixo. Parei de me mexer.
- Amor, o que se passa? – perguntei – Porque choras?
Mas a minha mulher não se deteve e continuou a massajar-me o pénis com a sua língua, sempre soltando pequenos gemidos de prazer, sempre soltando lágrimas. Com ambas as mãos, voltei a agarrar-lhe com força no cabelo e enfiei-lhe a pila na boca com força, o máximo que consegui, tentando fazê-la sufocar ou engasgar-se. O que eventualmente acabou por acontecer.
- É isto porque suspiras, Ana? – perguntei – É por isto que tanto impas e gemes?
Ana assentiu quase imperceptivelmente à medida que me ia lambendo e chupando o melhor que podia.
- Ou… queres mais?
Ela assentiu com mais veemência. Sorri: não era só ela que queria mais… apesar de a posição em que ela havia sido presa não ser muito confortável para mim. Tirei-lhe a pila da boca, impregnada com a sua saliva, desci-me do escadote, tirei-o dali e regressei a coxear para a beira de Ana, que continuava a gemer como uma cadelinha desesperada por algo. Abri o fecho que aquele colete-de-forças tinha na zona do baixo-ventre e toquei-lhe ao de leve nos lábios vaginais com a ponta dos meus dedos. Ana soltou um gemido abafado de dor e só então me veio à lembrança que ela me havia dito que havia sido violada.
- Amor… dói-te muito?
Ela tentou articular uma resposta; todavia, apenas consegui perceber que as primeiras palavras deviam ser um “por favor”, o resto era imperceptível. Hesitei antes de decidir o que fazer… mas, apesar dos seus olhos vazios, a sua expressão facial disse-me tudo.
Encostei a cabecinha do meu órgão à sua ratinha e fui-a passando lentamente pelos seus lábios vaginais. A minha mulher começou a gemer ainda mais, assentindo com a cabeça, quase como que a implorar para que eu entrasse nela. Eu tinha vontade de a fazer sofrer um pouco mais, mas eu próprio estava necessitado de fazer amor com ela, havia tanto tempo que não o fazia… e, assim, acabei por dar um passinho em frente e fazer com que o meu órgão lhe entrasse de uma vez na ratinha. Ana soltou um urro sufocado, com mais lágrimas a escorrerem-lhe à cara abaixo; contudo, e apesar dos ferros que lhe mantinham a boca aberta, pareceu-me ver a minha mulher a sorrir – ou então foi a minha imaginação.
As minhas mãos pousaram nas ancas da minha mulher enquanto ia entrando e saindo da sua ratinha, e sempre que a minha pila entrava nela na totalidade, Ana soltava um gemido de prazer e de contentamento – achava estranho ela conseguir sentir prazer no sexo depois de ter sido violentada pelas irmãs, mas tudo bem. Aproximei a minha cara da dela e dei-lhe um beijo nos lábios abertos, lambendo-lhos de seguida e saboreando a baba que ainda lhe pingava da boca. Tentei dar-lhe o máximo prazer possível apesar da posição algo incómoda em que eu me sentia, tentar sentir prazer também…
- Queres senti-lo na cara, amor? – perguntei, entre dois beijos.
O rosto de Ana pareceu denotar alguma confusão.
- Queres sentir leitinho na cara? – continuei.
Ela assentiu, com um gemido incessante. Abrandei os meus movimentos, relaxando a voracidade com que a estava a comer, não fazendo porém qualquer intenção de sair de dentro dela.
- Pois… eu também queria muita coisa. Vais tê-lo na coninha, para variar!
Ana assentiu com a cabeça.
- Tu queres é tê-lo em ti, seja lá onde for, não é?
Ana continuou a assentir: logo a seguir o seu olhar rebolou para cima e ela começou a gemer com ainda mais força que antes. A minha mulher pareceu dizer algo entre gemidos – imperceptível, obviamente – mas não liguei, concentrando-me apenas naquela mulher, em dar-lhe e em sentir prazer, mesmo com ela a estar a atingir naquele momento o clímax. Queria que aquele momento durasse o máximo possível: afinal de contas, ela não tinha um orgasmo havia mais de um mês! Acelerei ao máximo a cadência com que a comia, abraçando-a também enquanto o fazia. Foi até eu próprio sentir a vontade de me vir, não me detendo ao senti-la: gemendo também, permiti que o meu sémen entrasse na ratinha da minha mulher, beijando-a nos lábios e acariciando-lhe o cabelo enquanto o fazia.

Fiquei abraçado a Ana muito tempo após os nossos orgasmos terem cessado. Não me apetecia acabar com aquele momento, separar-me fisicamente da minha mulher, deixar de estar unido a ela. Todavia, lá teve de ser. Saí de dentro da sua ratinha e deixei-a, coxeando em direcção à pilha de roupas que eu havia despido. Assim que me vesti minimamente, voltei a abeirar-me de Ana, tirando-lhe a mordaça e começando a desprendê-la daquele sítio onde havia sido presa. Assim que a sua boca ficou livre, Ana murmurou:
- Obrigado, meu Amor… obrigado…
Ana não conseguiu dizer muito mais, as suas palavras sendo absorvidas por um pranto incessante. Fiquei um bocado sem jeito, sem saber o que fazer: não me recordava da última vez que Ana reagira daquela forma. Todavia, não hesitei em voltar a abraçá-la com muita força, deixando-a chorar no meu ombro durante algum tempo, o necessário até ela se acalmar mais. Assim que o seu choro parou mais, larguei-a e voltei à tarefa de a tirar de dentro daquela camisa-de-forças e de lhe descalçar as ballet boots, para depois despir-lhe as meias de látex. Assim que se viu livre, Ana começou a exercitar os músculos, tolhidos depois de tantas horas na mesma posição, enquanto eu ficava a olhar para os seus olhos e tentava descobrir como é que lhe iria tirar as lentes.
- E agora, caralho, como é que é suposto tirarem-se essas lentes opacas? – protestei eventualmente.
- Chama a Andreia, pode ser que ela saiba, afinal foi ela que mas pôs…
Encolhi os ombros, enquanto pegava na minha bengala e procurava algo que cobrisse o corpo nu da minha mulher antes de sairmos à rua.
- Como é que me encontraste? – perguntou ela, sorrindo.
- Nem queiras saber… – comentei, encontrando um roupão e colocando-o sobre o corpo de Ana, para ela acabar de o vestir – Encontrei a tua irmã Andreia, ela disse-lhe que estavas no ginásio e que depois ias almoçar à de uma amiga. Só que aquilo cheirou-me a tanga, por isso tive de apertar com ela, que depois lá me disse onde tu estavas.
- Hmm, meu cavaleiro salvador… – sorriu Ana, aproximando-se de mim o melhor que conseguiu para me dar um beijo. Acabei por ter de a ajudar nisso.
Assim que as nossas bocas se separaram, disse:
- Bom, vamos lá embora. Temos coisas para fazer, tens de te limpar e isso tudo, ver se regressas ao mundo e ver se arranjamos forma de tirar essas placas que tens nos olhos.
Ana assentiu e, agarrando-se ao meu braço, foi comigo rumo à saída daquela casa.

Espero que Andreia mantenha a sua parte do prometido e nunca dê com a língua nos dentes a respeito do meu verdadeiro papel naquela trapalhada toda. De como fui eu que lhe dei as chaves para os cadeados do cinto de castidade de Ana. De como tudo aquilo havia sido feito com o meu conhecimento e com o meu aval, numa tentativa de fazer com que as coisas entre todos nós pudessem voltar ao que eram antes, parando com o apelidar a minha mulher de “traidora”. Finalmente, talvez Ana ficasse um bocadinho desiludida por saber que eu não dera com ela após apertar com Andreia, mas sim após ela me ter ligado a dizer onde elas haviam deixado Ana.
Se bem que, conhecendo Andreia como a conheço, sei que estou fodido, sei que ela vai dar com a língua nos dentes para ver se Ana volta a querer prender-me algures e dominar-me. Enfim.

(história seguinte)

1 comentário: