segunda-feira, 16 de abril de 2018

A cobaia da Doutora Rostovseva (parte 1)

(história anterior)

Abri os olhos lentamente, sentindo a inconsciência abandonar o meu corpo, deixando-me de novo desperta e capaz de me aperceber de tudo à minha volta. Estava deitada num sítio húmido e frio, iluminado unicamente com uma lâmpada que baloiçava por cima de mim e cujo raio de acção não deixava ver nada mais em meu redor. Como não poderia deixar de ser, estava presa a algo, pois os meus pulsos não se mexiam e estavam abertos, da mesma maneira que os meus tornozelos; quanto à minha boca, sentia algo metálico enfiado entre os dentes que me fazia tê-la aberta. Olhei para o meu corpo e vi-me totalmente nua.

Procurei lembrar-me dos acontecimentos anteriores, mas a minha memória era uma amálgama de detalhes pouco claros. Tinha vindo do ginásio e ia tomar banho enquanto esperava pela chegada de Carlos, mas depois… o que aconteceu? Recordava-me de uma cara asiática… ou seriam duas? Tinham-me feito sinal para parar o carro… ou eu já tinha parado e ela ou elas foram ter comigo? Era tudo uma névoa…
De súbito, ouvi abrir uma porta de ferro a meu lado. Virei a cabeça para lá mas não pude ver muito pois um foco de luz incidiu-me nos olhos, deixando-me cega por alguns instantes.
- Ah, peço imensa desculpa! – ouvi uma voz feminina apologética, seguida de um clique, presumivelmente de uma lanterna – Vinha só ver se a Ana já havia acordado, não tinha ideia de a encandear.
Pisquei os olhos incontáveis vezes, tentando recuperar a visão; e enquanto isso a desconhecida aproximou-se de mim e começou a empurrar a superfície a que eu havia sido presa, que a tudo se assemelhava a uma maca ou similar. Todavia, o que eu já me apercebera é que aquela voz era totalmente desconhecida e tinha uma ligeiríssima pronúncia de Leste – claro que aquilo podia ser alguma invenção das minhas irmãs…
À medida que a minha visão foi voltando, vi uma mulher a empurrar-me para diante; e visto que eu estava a avançar “às arrecuas”, apenas podia observar a minha captora – que, de facto, não aparentava ter qualquer relação com a minha família. A desconhecida parecia ter a minha idade e envergava uma bata de médico… o que me fez logo pensar que pudesse estar no Hospital, apesar de o pouco que eu podia ver das instalações não me estar a parecer esse complexo; tinha um capuz ou hood de vinil negro a cobrir-lhe a cabeça mas que deixava o seu cabelo escuro livre o suficiente para o trazer num rabo-de-cavalo e umas luvas pretas de borracha que, tanto quanto eu podia ver, lhe cobririam os braços por completo.
Tentei perguntar-lhe o que se passava ali mas, como devem calcular, apenas consegui emitir alguns sons ininteligíveis. A desconhecida olhou para mim, sorriu e acariciou-me o rosto.
- De facto é bonita…
Assustei-me quando algo bateu na maca, mas era só umas portas duplas, que se abriram com a nossa passagem. Estávamos agora numa sala infinitamente mais iluminada que aquela onde havia acordado. Olhei em volta e parecia estar numa espécie de laboratório, consultório ou oficina, tal era a remessa de peças mecânicas, máquinas dos mais diversos feitios… Parámos ao pé de uma televisão com um painel de controlo ao pé e incontáveis fios electrónicos.
- Peço-lhe imensa desculpa pela forma como aqui foi trazida, mas infelizmente as minhas meninas são muito… zelosas na sua forma de trabalhar. – continuou a desconhecida. O seu tom de voz continuava a ser simpático.
Enquanto ela começava a mexer no painel de controlo, a minha mente começava a funcionar. Quem eram as “meninas” e qual o significado de tudo aquilo?
- Oh, céus, peço imensa desculpa. Não me apresentei. Onde estão as minhas maneiras… Dra. Yelena Rostovseva, muito gosto. Sei que a menina se chama Ana Karabastos, portanto estamos apresentadas. – a sua mão direita apertou a minha como se eu não estivesse presa à maca – Tenho um doutoramento em Robótica e outro em Genética. Provavelmente nunca ouviu falar de mim, pois não? Não faz mal, não faz mal. Tenho ouvido falar muito de si, visto muitas imagens suas, filmes seus. Adoro vê-la amarrada e dominada, uma pessoa vê-a ali e nota o quanto está a adorar o que lhe está a acontecer, o que lhe estão a fazer…
Aquela “doutora” aproximou-se de mim com uns fios com ventosa na ponta; claro que não pude impedir que ela mos prendesse à fronte.
- Decerto já ouviu falar na Sophia, aquela coisa que tem feito as delícias dos media só porque tem uma pseudo-inteligência artificial e porque foi apresentada no WebSummit. Na realidade, aquele manequim com circuitos é algo que qualquer garoto de dez anos seria capaz de construir como projecto da feira de ciências da escola. Coisas daquelas só me dão vontade de rir. Mas como não estou afecta à investigação e apenas me dedico aos meus projectos sem holofotes, nem sequer me dou ao trabalho de apresentar os meus resultados. E olhe que, se o fizesse, já teria revolucionado por completo o campo da robótica e da inteligência artificial… Mas claro que a Ana não acredita em mim apenas com base no que digo, sem provas… – de súbito, ela gritou – Lin!! May!!!
Não demorou muito até começar a ouvir passadas. E poucos instantes depois, duas raparigas ladeavam a minha captora.
- Chamal, Doutola?
Esbugalhei os olhos ao vê-las: eram as duas caras de me recordava daquele período cinzento antes de ter acordado ali! A que estava ao lado esquerdo de Yelena tinha um rosto mais agradável e aberto, lábios encarnadíssimos e cabelo escuro liso, pelos ombros, com a franja ao nível das sobrancelhas finíssimas; vestia um casaco encarnado de estilo oriental, vermelho com decorações bordadas, mas de tal forma curto que mal lhe cobria os seios, uma mini-saia do mesmo estilo e uma coleira metálica à volta do pescoço; e calçava uns sapatos pretos de salto-agulha e plataforma. Do outro lado, a rapariga tinha uma cara de má, com olhos duros e lábios escuros, e trazia o cabelo negro em tranças; usava um vestido típico chinês, da mesma cor e motivos que o da companheira, mas bem mais justo ao corpo e mais curto, que fazia parecer as suas pernas ainda maiores; e, tal como a outra, calçava sapatos negros de salto altíssimo.
- A Lin Pei e a May Chiang – e Yelena apontou para as duas – foram as minhas primeiras criações. Como vê, em termos de aspecto ganham à Sophia de goleada. Na altura que as construí, estava muito longe de pensar em criar andróides com uma faceta sexual… mas devido a uma falha no chip que alberga a sua personalidade, elas tornaram-se amantes uma da outra. Aliás, essa falha no chip fez com que elas fugissem daqui e se transformassem em assassinas1… mas isso é outra questão. – as suas mãos acariciaram o rosto das recém-chegadas, que reagiram ao carinho quase como se fossem gatas – Hoje em dia utilizo-as como minhas assistentes, guarda-costas… para tudo o que eu precisar.
“Bom, mas a Ana deve estar a perguntar-se: “OK, isto é tudo muito bonito mas que estou eu aqui a fazer?” Bom, como lhe disse há bocado, uma falha na sua programação fez com que elas ganhassem atributos totalmente inesperados. E eu tenho tentado compreender essas falhas para as melhorar… mas ao mesmo tempo explorando esses atributos. Por exemplo, May Chiang – apontou para a rapariga que estava à sua esquerda – ganhou uma personalidade masoquista e submissa em exagero: ela passa a vida a pedir a Lin Pei ou a mim para a maltratarmos, para lhe batermos ou lhe causarmos dor imensa. E eu gostava de conseguir moderar isso, pois gostava que os filhos do meu trabalho se conseguissem integrar na sociedade sem serem distinguidos. Mas para isso, precisava de uma pessoa que fosse naturalmente submissa para obter os dados que preciso, pois não tenho quaisquer referências nem dados. Por isso mandei as minhas meninas convidá-la a passar umas horas connosco.
E enquanto as três mulheres se aproximavam da maca onde eu estava presa, uma outra questão surgiu-me: como sabia aquela mulher que eu era submissa por natureza? OK, eu nas minhas fotos aparecia sempre a ser dominada, sempre a entregar-me aos caprichos de outrem… mas seria só por isso? Todavia a mordaça impediu-me de formular aquela pergunta.
- Mas imagino – continuou ela; estava a tornar-se óbvio que Yelena gostava de falar – que a Ana se pergunte novamente como sei que é submissa. Muito poderia ser dito sobre isso mas a versão curta é que, nos intervalos do meu trabalho em robótica, no seguimento da minha pesquisa a seu respeito, acabei por descobrir coisas sobre si e sobre a sua família que a Ana nem sequer sonha… mas não interessa agora para o caso.
Fitei-a. Que queria ela dizer?
- Lin, May, querem tratar da nossa convidada? – sorriu Yelena.
- Eu tlatal dela. – retorquiu a mulher de tranças no cabelo, que seria a tal Lin, com uma pronúncia absolutamente pavorosa – Sel palecida com May Chiang, Doutola.
- Achas mesmo, minha amada? – comentou May, com um sorriso; quase nem se notava ser chinesa… depois recordei-me de Yelena ter dito que aquelas duas eram criações dela. Andróides com pronúncia?
Fui retirada dos meus pensamentos quando a mão de Lin me apertou num mamilo com força, torcendo-o logo a seguir; soltei um berro gutural… para levar logo de seguida uma chapada na cara com toda a força, ignorando por completo os ferros que tinha na boca: decerto ter-se-ia aleijado – depois lembrei-me que não era humana.
- Que plecisal fazel pala seus dados, Doutola? – continuou Lin, indiferente ao que acabara de fazer.
- O que quiseres. À medida que vás sujeitando a nossa convidada aos teus carinhos, vou obtendo tudo o que preciso. Mas não te excedas, Lin Pei… já sei como tu és.
- Sim, Lin… costumas ser tão bruta… – a cara de May parecia demonstrar tristeza.
- Silêncio, May! – e Lin esbofeteou a companheira com toda a força; imaginei o estado do meu maxilar se fosse eu a levar com aquele golpe – Fazel que eu dizel!
- Sim, minha amada, desculpa. – e May agarrou-me no outro mamilo, torcendo-o logo a seguir, voltando a fazer-me gritar.
Lin voltou a agarrar-me no outro seio, torcendo-o, puxando-o e batendo-lhe com a mão, sendo secundada por May Chiang, e senti logo os olhos a quererem humedecer-se: elas estavam a ser carniceiras! Se Yelena achava que aquilo não era ser bruta, até tremia do que elas seriam capazes…
- Assim, Dra.? – perguntou May.
Yelena não respondeu logo, ocupando-se dos ecrãs a que estavam ligados os fios que tinha colados à cabeça.
- Continuem. Para já, os dados são insuficientes. Temos de a levar ao limite, de forma que os sensores consigam captar a sua personalidade por completo.
Enquanto Yelena falava, Lin Pei ia metendo coisas em cima da maca, ao lado do meu corpo, e May Chiang continuava a torcer-me os mamilos, fazendo-me lacrimejar loucamente. Lin ergueu uma mão, mostrando-me dois pauzinhos presos com elásticos nas pontas.
- Tu comel com pauzinhos, sim? Agola pauzinhos comel tu.
Olhei para Yelena, que encolheu os ombros.
- Por mais que tente não consigo melhorar o chip de linguagem dela. Só desmontando Lin e voltando a fazê-la de raiz… e acho que ela nem me deixava tocar-lhe para isso.
Dois dedos entraram-me na boca e agarraram-me na ponta da língua como se fosse uma tenaz; e antes que eu pudesse reagir já tinha dois pauzinhos apertados na minha língua. Ouvi uma curta conversa entre as duas mulheres (era fácil esquecer-me que eram andróides) num idioma que calculei que fosse o chinês e, quase de imediato, tive mais dois pauzinhos a entalar-me cada um dos meus mamilos, fazendo-me largar mais um urro de dor.
- Já se começa a ver qualquer coisa… – declarou Yelena, indiferente ao meu sofrimento.
Lin agarrou em mais dois pauzinhos e, pelo que me pareceu, preparava-se para os colocar na minha zona púbica… mas a doutora levantou uma mão.
- Não, Lin, aí não. Não castigues essa zona. Para já, pelo menos… – e Yelena riu-se.
- Sim, Doutola.
Lin aproximou-se da minha cara, puxou-me o lábio inferior e apertou-o entre os dois pauzinhos, fazendo o mesmo ao outro lábio. May Chiang colocou uma mão no meu baixo-ventre, deu umas chapadinhas naquela zona e começou a estimular-me o clitóris e os lábios vaginais; não consegui reprimir um gemido de prazer.
- Interessante… – ouvi a voz de Yelena.
- Continuo, Dra.?
- Hmm… não, May. Agora deixem-na comigo. Afastem-se! – acrescentou, num tom de voz algo esquisito.
Lin e May afastaram-se da maca enquanto Yelena saiu de trás dos monitores e se aproximou de onde eu estava deitada. Com uma mão envolta em látex acariciou-me o rosto, sorrindo embevecida.
- A Ana é mesmo bonita… quem me dera conseguir fazer uma cópia sua.
Abriu a bata de médico e despiu-a, revelando um soutien de vinil que cobria apenas metade dos seios, um cinto de ligas do mesmo material e género, daqueles que cobriam parte da barriga, ao qual estavam presas meias pretas de nylon. Yelena não trazia cuecas… e com uma mão acariciou o seu baixo-ventre. Tentei perceber que tinha ela ali, mas o que à primeira vista me pareceu um strap-on acabou por se revelar um pénis verdadeiro, que reagiu assim que a mão o começou a masturbar! Todavia aquele estímulo manual não fez com que aquele órgão crescesse por aí além; aliás o da minha cunhada Helena era um monstro quando comparado com aquele.
- Desculpe-me, mas não consigo resistir… o facto de ser mulher não significa que não goste de mulheres… e eu não consigo resistir-lhe… a si… May, um preservativo.
- Sim, Dra.
A rapariga desapareceu do meu campo de visão, reaparecendo logo de seguida com um pacote de preservativos de onde tirou um e entregou a Yelena. Esta abriu-o, retirando o contraceptivo, e tratou de cobrir o seu órgão com ele; enquanto isso, eu olhava para aquela mulher, tentando descobrir o que era ela. Notei uma expressão algo masculina no seu rosto e uma maçã-de-Adão, mas o seu corpo era demasiado imperfeito para ter sido obra de uma operação de mudança de sexo, os seios não eram muito grandes, havia uma ligeira flacidez na barriga – coisas que normalmente as shemales (ou pelo menos as com quem eu trabalhei no passado) nunca possuíam. Claro que isso não queria dizer nada, mas…
- Espero que não se assuste com a minha pila nem com o facto de ser uma “mulher de pila”. A verdade é que sempre tive sexo indefinido, graças a uma deformação nos cromossomas do óvulo que me deu origem e, como resultado, nasci com características masculinas e femininas. Não vou falar aqui da história da minha vida, não é para isso que aqui estamos. Mas… não consigo resistir a esta oportunidade… – e Yelena voltou a acariciar-me o rosto.

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