segunda-feira, 2 de junho de 2025

Uma hora

 


- Estou sim?

- Boa tarde…

- Boa tarde.

- Eu… hum… estou a ligar por causa do, erm… do anúncio… do anúncio no jornal que…

- Sim, faça favor de dizer.

- Gostaria de poder usufruir dos seus préstimos…

- Não sou eu que trato disso. – interrupção brusca – Quem trata dos actos é o meu associado.

-  Ah… OK. E como é o preço?

- 75 euros a hora. Em dinheiro vivo, se fizer favor. E 25 cada extra. Se o quer vestido de menina, se quer usar brinquedos…

- Não, não, não quero nada disso. Pode estar ao natural.

- Depreendo que por “ao natural” signifique sem roupa, correcto?

- Sim, sim. Roupas para quê, mesmo?

- OK. Para que horas?

- 17h30.

- Certo. Então, só para confirmar: 1 hora, sem brinquedos, sem roupa, é assim?

- Hmm… sim, basicamente é isso.

- OK. A morada é…

Quando o homem desligou o telefone, olhou de soslaio para Sasha, que estava acorrentado a seus pés, sempre de vestido rosa como da primeira vez.

- Bom, ouviste o nosso cliente. Vamos tirar-te essas roupas e preparar-te para ele.

terça-feira, 15 de abril de 2025

A Enfermeira e o Paciente


(história anterior)

(História narrada por Carlos Lourenço - texto normal - e Ana Karabastou - texto itálico. O texto está diferenciado para se perceber quem narra o quê)


Acho que já disse uma vez que demasiadas histórias da minha vida começam da mesma maneira: comigo a perder a consciência e a acordar num lugar qualquer escuro, amarrado e amordaçado e à mercê daquela irmandade que faz parte da minha vida. E esta não vai ser excepção: estava eu no meu escritório no estádio do clube onde estou a treinar esta temporada, a organizar alguns dados estatísticos sobre o nosso próximo adversário, quando começo a sentir uma imensa sonolência a apoderar-se de mim. Penso em levantar-me e em ir beber um café (o quarto do dia, afinal de contas estávamos a meio da tarde)… mas não passei do “pensar”, pois dei por mim a tombar em cima do teclado do portátil; ainda me lembro de pensar, antes de adormecer por completo, “que será que aquelas putas já prepararam para mim hoje…”.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Pagamento por serviços

(história anterior)

- Entrem!

Assim que ouvi a resposta, empurrei a porta da rua, que estava entreaberta, e entrei na casa do casal, sendo seguida de Miguel – ou, melhor dizendo, de Milene. O meu menino tinha uma cabeleira de cabelos negros ondulados, uma camisa branca de mangas compridas, com um corpete bordeaux, uma mini-saia cor-de-rosa berrante, collants brancas e sapatos de salto-agulha e plataforma da mesma cor da mini-saia; para além disso, estava com a maquilhagem perfeita – um mimo!

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A picada da Vespa Negra

 


Florbela era uma mulher de meia-idade, de bem com a vida e muito bem resolvida com a sua idade e com o que a vida lhe havia trazido. Era uma mulher não muito alta, de cabelo castanho ondulado, pelos ombros, olhos castanhos amendoados e boca pequena. Trabalhava no posto de combustível que existia na aldeia, o único existente num raio de 30 km à volta, o que fazia com que muitos homens, trabalhadores rurais e das florestas de eucaliptos que existiam à volta, passassem por lá e se metessem com ela, alguns tentando mesmo a sua sorte – ainda por cima havendo um café mesmo encostado à bomba. Contudo, Florbela não os deixava alargar-se muito com a conversa: apesar de ser divorciada e de já ter os filhos maiores de idade e bem na vida, não sentia necessidade de andar a “saltar de cama em cama”. Era porém uma ávida utilizadora do Facebook, e todos os dias colocava uma ou duas fotos dela vestida antes de sair de casa, fosse para o trabalho ou para qualquer passeio que fosse dar, sempre bem arranjada mas sem ser ousada. Logicamente essas fotografias geravam algum frisson, com muitas reacções, “gostos”, “adoros” e comentários de “linda”, “estás muito gira”; uma vez por outra apareciam alguns mais atrevidos que lhe mandavam mensagem privada mas Florbela, sempre fiel ao seu registo, nunca alimentou muito as conversas de quem a queria “conhecer noutro nível”: gostava de se mostrar na Internet mas, em público, era bastante recatada.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Uma orgia em casa

 


(história anterior)

Sei que a adição de Humberto ao meu harém gerou alguma celeuma entre os restantes membros, uma vez que ele passava todos os dias comigo enquanto Miguel, Vasco e Rita apenas eram meus durante os sábados e domingos (apesar das tarefas que eu lhes dava durante as semanas e dos vídeos que eu obrigava todos a enviar-me). Admito que houve alguns momentos que, por causa disso, pensei separar-me do meu marido… mas uma bela tarde, enquanto me olhava ao espelho, olhei para a diva que estava do outro lado e disse-lhe:

- Ouve lá, mas tu és parva? Vais deixar que três submissos de merda ditem como vais viver a tua vida?! Tu és a D. Joana, caralho! Rainha desta merda toda! E eles só têm de aceitar-te como tu és e na situação que estás! E acabou-se!

Mandei uma mensagem áudio aos três via WhatsApp a dizer que não lhes ia tolerar rebeldias de qualquer espécie, que o facto de Humberto ser meu marido não lhe dava privilégio nenhum e que ele tinha tanto valor para mim como eles (na verdade, até tinha menos, mas eles não precisavam saber disso). E, como castigo, para além da Cerimónia de Bons-Dias À Rainha, que todos eles eram obrigados a fazer ao acordar, alarguei também para eles a Glorificação ao Deus-Alfa, que até então estava unicamente reservada ao meu marido. E todas as manhãs eles tinham de enviar para o grupo de WhatsApp que eu tinha criado para o efeito os seus vídeos a cumprirem ambas as tarefas! E a partir daí pareceu-me que as coisas acalmaram um bocadinho pois todos eles perceberam o patamar em que os tinha…

Mas eis que chegou a altura do aniversário do Humberto e lembrei-me de preparar algo de especial para celebrar a ocasião…

segunda-feira, 25 de março de 2024

Quatro décadas, quatro festas (parte 4)

 

continuação...

Renovação de votos

Foi já dentro do avião que me pus a pensar nos acontecimentos dos dias anteriores. Tudo o que se havia passado havia sido de uma intensidade que, de facto, eu poderia considerar digna de um marco como são os 40 anos (mesmo que festejados com um ano de atraso). Mas enquanto eu fechava os olhos e deixava a mente reviver essas sensações, não pude deixar de recordar a cerimónia de renovação de votos com o meu marido.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Quatro décadas, quatro festas (parte 3)

 

continuação...

O labirinto

O meu vôo, contudo, não me ia levar a Portugal: havia recebido uma mensagem de Amélia, a minha irmã mais velha, a dizer-me para aparecer por casa dela para festejamos o meu aniversário. Sorri com ironia: isso significava que a festa de família iria acontecer em territórios franceses; e como a minha irmã mais velha tinha acesso a mundos e fundos e meios, significava que a coisa iria ser em grande!

Assim que cheguei a Paris e depois de tratar das bagagens, saí para a rua e apanhei um táxi rumo a casa de Amélia. Assim que começámos a andar, agarrei no meu telemóvel, mandei mensagens a Lucy e ao meu marido, a avisar que havia chegado e que havia corrido tudo bem. Abri logo de seguida o Instagram, entretendo-me a ver as publicações mais recentes; recebi, entretanto, um vídeo no WhatsApp de Carlos, em que o mostrava a ele mais aos nossos meninos a fazerem salame de chocolate. Ri-me e mandei um “portem-se bem e continuem assim, a mamã não demora a voltar para junto de vocês”.

E foi então que comecei a sentir-me sonolenta. Era verdade que os dias anteriores haviam sido desgastantes e o sono nunca era de muitas horas, pois a paixão era mais forte… e só então reparei que havia uma separação de acrílico entre mim e o condutor – o que até era normal, por causa da pandemia – e que as portas do táxi estavam trancadas. “Pronto, assim começa a festa…” pensei, antes de tombar sobre o banco, sem sentidos.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Quatro décadas, quatro festas (parte 2)

 

continuação...

Ladies inglesas

Não me iria demorar muito em Portugal, porém; dois dias depois da minha chegada, estava novamente no aeroporto a apanhar mais um avião, desta feita para Inglaterra. Porquê? Porque Lucy, a modelo loira que também estava apaixonada por mim, mandara-me um mail a dizer que eu estava há demasiado tempo sem estar com ela e que me queria fazer uma festa de aniversário, enviando uma fotografia da tanga encharcada “das saudades que tenho tuas e da vontade que tenho de te ver”. Não tive outra hipótese senão deixar o meu marido e os meus filhos e ir ver o que tinha aprontado aquela louca.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Quatro décadas, quatro festas (parte 1)

 

(história anterior)

O aproximar da data do meu aniversário começou a deixar-me algo ansiosa: como iria eu fazer a festa naquele ano? Tinha de ser algo grandioso, uma vez que era o meu quadragésimo aniversário, a entrada nos “entas”, mas não queria que fosse algo sobre o qual eu não tivesse o completo controlo, para evitar o que havia acontecido no ano anterior1. Comecei a fazer planos para algo absolutamente “Karabástico” e estava a começar a fazer os primeiros contactos quando a pandemia do coronavírus rebentou em Portugal. Fiquei assustada, claro, por mim, pelo meu marido e pelos meus filhos, e coloquei tudo em pausa, respeitando o confinamento e saindo de casa apenas o mínimo indispensável. Quando as coisas pareciam estar a melhorar novamente, um mês antes da data do meu aniversário, voltámos a entrar em novo confinamento. Todavia, Carlos não deixou que a data passasse impune: uma semana antes, ajoelhou-se à minha frente, entregou-me mais uma aliança e perguntou-me se queria renovar os votos de matrimónio com ele, numa cerimónia restrita apenas a meia-dúzia de familiares. Claro que aceitei! E no dia 19 de Fevereiro, no meio dos campos do Alentejo, fizemos a nossa renovação de votos – no meio do maior secretismo devido à questão do confinamento – e terminámos a noite no nosso quarto, numa sessão de amor, não só sexo, mas puro e verdadeiro amor entre duas pessoas, que durou horas e nos deixou ainda mais apaixonados.

Mas apesar da magnífica cerimónia, sentia que ainda faltava algo… portanto, assim que a pandemia deu mostras de ceder, voltei aos meus planos e contactos para a festa de anos, desta vez, para o meu 41º aniversário. Comecei a preparar as coisas para celebrar com as minhas irmãs; todavia as coisas tomaram uma tal proporção que tive de fazer várias festas para conseguir estar com toda a gente que pretendia celebrar comigo! Este é o relato dessas ocasiões.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Os festejos de Carnaval

 

Pedro achou que lhe tinha saído a sorte grande quando Yulia aceitou namorar com ele. De facto não era para menos: aquela rapariga fazia voltar as cabeças. Nascida na Bielorrússia mas em Portugal havia quase vinte anos, tinha à volta de um metro e oitenta de altura (se bem que parecia sempre ser mais alta graças aos saltos altos que usava constantemente), cabelos loiros normalmente presos num altivo rabo-de-cavalo, olhos verdes e felinos, um corpo escultural com seios roliços, cintura estreita e posterior saliente, rematado com umas pernas enormes e torneadas. Ao invés, Pedro era um rapaz normal, alto e de corpo normal (não costumava ir ao ginásio, o trabalho de consultoria e as viagens nos transportes públicos não lhe davam tempo livre para isso), pelo que todos os dias este agradecia a todos os santinhos por ter sido escolhido por aquela deusa para namorar.